O "Simione", que já estava sob vigilância, foi intercetado no Atlântico pelas autoridades espanholas, em dezembro, no âmbito de uma operação de combate ao tráfico de droga que permitiu desmantelar uma das maiores organizações criminosas da Galiza.
O caso, inicialmente noticiado pelo jornal espanhol El Pais, foi depois retomado pelo portal angolano Isto É Notícia, segundo o qual o navio teria sido 'furtado' na unidade da Polícia Fiscal e Aduaneira por representantes da empresa Cuane Orimara, Lda., após ter sido apreendido por ordem do Ministério Público angolano.
O navio estava envolvido num litígio, envolvendo as empresas Edison Nog (SU), e a Cuane Orimara, representadas, respetivamente, pelo cidadão chinês Lou Lin e pelo angolano Afonso Francisco Manuel.
Segundo o Isto é Notícia, foi aberto, no final do ano passado, um processo-crime junto do Serviço de Investigação Criminal de Luanda, devido à alegada apropriação indevida do navio por Afonso Francisco Manuel, representante da empresa Cuane Orimara no Porto Amboim (província do Cuanza-Sul) violando os termos de um contrato de gestão que tinha assinado com o cidadão chinês Lou Lin.
Em 31 de outubro, segundo os documentos a que a Lusa teve acesso, foi ordenada uma busca domiciliar à casa de Afonso Francisco Manuel, bem como a apreensão do navio, à altura parqueado no porto pesqueiro de Luanda.
Em 28 de novembro, o navio foi entregue a Lou Lin, com quem a Cuane Orimara tinha assinado o contrato de gestão e que apresentou queixa contra a empresa por quebra do contrato.
No entanto, o cidadão chinês nunca chegou a ficar em posse do navio, que terá desaparecido, segundo o Isto é Notícia, quando estava sob custódia da polícia Fiscal Aduaneira.
O "Simione" reaparece, em 21 de dezembro, nas águas do Atlântico, com três toneladas de cocaína, que teriam sido transportadas a partir de um outro navio em alto mar, e é intercetado pela polícia espanhola.
Segundo as informações divulgadas pelas autoridades espanholas, o navio pretendia fazer chegar a droga à costa espanhola, mais em concreto à Galiza, no norte de Espanha.
Mas os documentos divulgados pelo portal Isto É Notícia e a que a Lusa teve acesso, indicam que o "Simione" iria sair em 14 de novembro do porto pesqueiro com destino a Portugal, seguindo a ata de saída assinada pelo capitão do navio.
Segundo um comunicado do Serviço de Investigação Criminal de Angola, divulgado na sexta-feira, o navio havia saído do país "cumprindo todas as formalidades e procedimentos legais, com as devidas autorizações dos órgãos competentes e sob direção da sua tripulação".
O SIC diz ainda que sob o navio "não impendia nenhuma interdição de saída dos espaços marítimos sob soberania e jurisdição do Estado angolano" e que está a acompanhar o evoluir do processo com as congéneres espanholas.
Não explica, no entanto, como foi dada autorização de saída a um navio que tinha sido apreendido no âmbito de um processo-crime e que tinha como fiel depositário o cidadão Lou Lin.
A Lusa procurou obter respostas junto do SIC, que remeteu esclarecimentos para mais tarde.
Depois de intercetada, a embarcação foi levada para as ilhas Canárias (em Espanha), e os três tripulantes estão agora em prisão preventiva, tendo sido detidas mais 13 pessoas em terra.
O "Simione" foi fretado num porto do Senegal pela organização de narcotraficantes espanhola e faria parte de um esquema usado pelo grupo que passava por simular que os navios faziam campanhas de pesca no Atlântico, junto às costas africanas, recolhendo em alto mar droga de outras embarcações.
No caso do "Simione", outros elementos da rede iriam arranhar um barco num porto galego para ir ao encontro do pesqueiro e fazer, em águas territoriais portuguesas, um novo transbordo da droga, que seria depois então levada para a Galiza, segundo revelaram as autoridades espanholas.
A operação recebeu o nome de "Sugar Brown" ("açúcar castanho") e além de investigadores e forças policiais de Espanha, contou com a cooperação de autoridades do Senegal, onde foram vigiados os traficantes galegos que se deslocavam ao país africano para fretar barcos e contratar tripulações.
Também a agência norte-americana de combate ao narcotráfico (DEA, na sigla original) e a autoridades britânicas de combate ao crime colaboraram nesta investigação, segundo fontes citadas pelos meios de comunicação social espanhóis.
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