Em conferência de imprensa em Lisboa, na Universidade Católica Portuguesa, no dia em que foi divulgado o relatório da comissão independente que estudou os abusos sexuais na igreja católica, José Ornelas afirmou que o pedido de perdão da igreja às vítimas destes abusos não se vai ficar pelas palavras.
"Já falámos disso evidentemente. Estão em vista já várias ideias, mas acho que tem toda a razão. Isto não pode simplesmente ser uma questão de palavras. As palavras têm o seu lugar e se são autênticas significam uma 'vontade de'. Só o facto de termos instituído esta comissão é na tentativa de fazer jus a esse sofrimento que foi infligido a tanta gente e de uma forma grave que complicou as suas vidas. Isso tem de estar presente. A forma de o fazer tem várias coisas e isso vai ser tratado para que seja uma coisa em comum da igreja em Portugal", disse o bispo.
Garantindo que o tema está "em cima da mesa" e que será tratado "nos próximos tempos", o representante dos bispos portugueses evocou a sua própria experiência de contacto com vítimas, para descrever o momento.
"São momentos dolorosos, mas também libertadores e é nesse sentido que acho que é importante para nós todos como sociedade e como igreja que passemos por este momento, que não é fácil, mas sobretudo que seja libertador e que seja justo minimamente para estas pessoas para que se possa criar ao seu redor e para o futuro um mundo em que tenham dignidade e onde possam saber que não foram elas as culpadas disto e que não podem viver com essa mácula interna para a vida. Outros é que são a censurar por causa disso", disse.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022, anunciou hoje o coordenador Pedro Strecht, que referiu ainda que esta comissão enviou para o Ministério Público 25 casos.
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