Na sequência da retoma das negociações entre o Governo e os sindicatos dos professores, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, falou aos jornalistas sobre as negociações díspares entre o Executivo e os sindicatos, que discordam da proposta da tutela.
“Estava a ouvir o senhor primeiro-ministro e até me surpreenderia se ele tem dito outra coisa, porque não me esqueço, nem ninguém de nós aqui se esquece, quando disse que a Assembleia da República tinha um compromisso entre os partidos para aprovar a contagem integral do tempo de serviço, faseadamente, o primeiro-ministro ameaçou demitir-se", começa por dizer Mário Nogueira.
Tecendo críticas diretas a António Costa, o representante da Fenprof atira: "Ora, um primeiro-ministro que ameaça a demissão de um Governo e criar uma crise política por causa do tempo de serviço dos professores, acho que nenhum de nós estava a contar que tivesse mudado de ideias, quer em relação ao tempo de serviço, quer em relação a demissão”.
“O primeiro-ministro até já veio pôr em alternativa, ou o tempo de serviço dos professores ou as obras do IP3. Não fez as obras do IP3, mas também não contou o tempo de serviço aos professores, aí já temos ideia de que temos um primeiro ministro que não é muito sério nas declarações que faz”, acrescenta.
“A questão que se coloca para nós, professores, está bem clara. Relativamente a um acordo sobre os concursos, está longíssimo, porque aquele documento de concurso é muito penalizador, para professores do quadro da zona pedagógica então, para professores do quadro escola, contratados, por exemplo, para terem minimamente para valorização salarial", explica Mário Nogueira, afirmando que o documento "não é" extraordinário.
"Hoje os professores jamais concordariam que alguma organização sindical assinasse qualquer acordo que fosse sem aquilo que é seu - que é o tempo de serviço - fosse considerado", acautelou.
De recordar que professores e ministério da Educação regressam, esta sexta-feira, às negociações sobre um novo modelo de recrutamento e colocação de docentes, com os sindicatos a discordarem da proposta da tutela e a exigirem debater outros assuntos.
Por enquanto, em cima da mesa, está um novo modelo de recrutamento e colocação desenhado pelo ministério para tentar corrigir problemas como a falta de professores nas escolas ou a precariedade dos docentes, conhecidos por "andar com a casa às costas".
Propostas como a de dar autonomia aos diretores para escolher parte dos professores tendo em conta os projetos das escolas foram fortemente contestadas pelos sindicatos.
O ministério da Educação foi fazendo várias alterações ao projeto inicial, acolhendo exigências como a colocação dos professores ser feita apenas tendo em conta a graduação profissional, mas os sindicatos continuam a apontar falhas ao documento.
Na nova proposta apresentada na quarta-feira uma das novidades era a possibilidade de os docentes do quadro poderem concorrer anualmente a um concurso que lhes permita mudar de estabelecimento de ensino, aumentando as hipóteses de ficarem mais perto de casa.
A "guerra" entre ministério e sindicatos levou a protestos nas escolas e nas ruas, mas também à marcação de muitas greves, destacando-se a paralisação do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP), que iniciou uma greve no início de dezembro que já anunciou que vai manter o pré-aviso de greve até 10 de março.
Também a plataforma de sindicatos, da qual faz parte da Fenprof, anunciou duas greves regionais: no dia 2 de março paralisam as escolas do norte e a 3 de março será a fez do sul.
O Ministério da Educação revelou na quarta-feira aos sindicatos que tinha solicitado serviços mínimos para as duas greves regionais, à semelhança do que aconteceu com a greve convocada pelo STOP.
Esta sexta-feira, o STOP anunciou a marcação de uma nova marcha de professores para 25 de fevereiro.
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