Nuno Brás não prestou declarações aos jornalistas, mas o promotor da vigília na região, Tiago Neto, declarou que esta constitui "uma primeira reação dos leigos, que não ficam indiferentes e são solidários e estão envergonhados e sentem-se desiludidos".
"Rezamos também pela Igreja, para que a Igreja se mexa, se movimente, passe da passividade para a fase ativa", disse, sublinhando que "os leigos não ficaram indiferentes perante a publicação do relatório da Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja".
A vigília, que decorreu entre as 21:00 e 22:00 na Praça do Município, no centro do Funchal, juntou cerca de 60 pessoas em oração silenciosa, cada uma segurando uma vela acesa.
"É uma iniciativa que pretende ser um sentido de perdão às vítimas também por parte dos leigos. A Igreja não são só os padres e os bispos, são também os leigos. Os leigos assumem a sua responsabilidade e os leigos o que sabem fazer em comunidade é rezar", disse Tiago Neto.
"Este é um momento de introspeção, numa Quarta-feira de Cinzas, o início da Quaresma. Esta iniciativa é um convite à oração, onde sobressai o silêncio, porque é uma oração em silêncio, e a luz das nossas velas", reforçou.
A vigília pelas vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica decorreu em simultâneo em várias cidades do país, como Lisboa, Porto, Braga, Évora, Beja, Coimbra e Ponta Delgada, na sequência da divulgação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja.
A comissão recebeu 512 testemunhos validados, o que permitiu a extrapolação para a existência de, pelo menos, 4.815 vítimas, tendo sido enviados 25 casos para Ministério Público, que hoje anunciou ter aberto 15 inquéritos.
Os dados revelaram que 97% dos abusadores eram homens e em 77% dos casos padres, além de que em 47% dos casos o abusador fazia parte das relações próximas da criança.
A Conferência Episcopal Portuguesa vai tomar posição sobre o relatório a 03 de março, em Fátima.
Os abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a sociedade portuguesa, à imagem do que ocorreu com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa.
Na Madeira, foram reportados 14 casos de abuso.
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