"Aqui o ponto essencial era um sentimento de urgência, no sentido de que a divulgação do relatório não nos deixou indiferentes e que devíamos mostrar isso em público", disse aos jornalistas Joaquim Costa, um dos signatários da iniciativa, que decorreu também em outras zonas do país.
Destacando a emergência e a exigência de respostas, centenas de católicos, leigos e religiosos estiveram uma hora em silêncio e com uma vela acesa.
"Se as pessoas vêm aqui é porque sentiram o mesmo apelo de urgência. Não vieram atrás de nenhuma organização, nenhum slogan. Vieram atrás daquilo que sentem no seu coração. O que sentem todos. Desde logo uma grande vergonha e uma grande necessidade de a manifestar e de pedir perdão pelo que aconteceu", indicou.
Para Joaquim Costa, o sentimento é de "repúdio".
Já Paulo Câmara disse aos jornalistas que se tratou de um "gesto simples de oração".
"Confiamos muito no poder da oração. É um gesto de misericórdia e um gesto de esperança coletivo, mas em silêncio, porque entendemos que nesta altura o silencia em oração diz bastante", realçou.
O também subscritor da iniciativa sublinhou que o que une os católicos é "penas um gesto de dor pela dor dos outros e uma vontade de mudança".
Na vigília também marcou presença o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, que disse que hora de oração marcou "um silêncio muito preenchido".
"Vim expressar aquilo que este silêncio expressou. Certamente, ficaram tocados pelo silêncio que aqui aconteceu durante esta hora e este silêncio é muito preenchido, sobretudo, por duas realidades: Em primeiro lugar, pela solidariedade, pela comunhão, por todos aqueles que sofreram. (...) O segundo (...) é que para os crentes, quando as feridas são assim tão profundas, só se resolvem com Deus, que está acima das nossas capacidades e boas vontades", salientou.
"Estes dois sentimentos foram aqueles que preencheram a generalidade dos presentes, porque foi um silêncio muito preenchido", acrescentou.
Manuel Clemente realçou ainda que se tem assistido a mudanças na Igreja Católica em relação a tratamento de temas como os abusos sexuais.
"A partir dos anos de 1990 tivemos a graça de ter dois grandes papas. O papa Bento XVI e agora o papa Francisco, que nos últimos 10 tem-nos alertado constantemente para este problema, quer na Igreja quer na sociedade em geral. Temos tomado uma série de medidas", afirmou.
Também no local esteve o líder do partido Chega, André Ventura, que referiu que quis marcar presença como católico, rejeitando qualquer aproveitamento político.
"Nós não estamos a aproveitar-nos de nenhuma iniciativa. O Chega convidou quem quis vir como católico e não como partido político. Eu próprio vim como católico. Eu como cidadão posso fazer declarações também. Penso eu que ainda não é proibido na lei", observou.
Segundo André Ventura, importante que os cidadãos se mobilizassem e também que as forças políticas mostrassem que estão preocupadas com o assunto.
"É um assunto pessoal, mas que ao mesmo tempo é um assunto de natureza pública e que nós enquanto responsáveis públicos devemos preocuparmo-nos", apontou.
A vigília de oração serviu para várias pessoas, enquanto membros da Igreja Católica, manifestarem às vítimas de abusos sexuais e familiares um "pedido de perdão, pela passividade e omissão de vigilância".
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