Ângela Sampaio não nasceu com este nome pelo qual o cartão de cidadão hoje a identifica, mas por ter começado a transição de género em 2016, sabe o que é estar na pele de todos aqueles que estão a passar por esse difícil processo.
É por ter o gosto em ajudar pessoas transexuais que tem os perfis das redes sociais públicos para que lhe peçam ajuda, conta à agência Lusa.
Aos 38 anos iniciou a transição de género e agora, aos 45, garante que para além do assédio pelo qual sofre, percebe que existe muito ódio pelas pessoas transexuais, porque há quem acredite que "Deus castiga e a igreja é contra".
A ativista tenta sempre defender-se das opiniões homofóbicas "de uma forma pedagógica", explicando que "se as pessoas transexuais existem, foi um plano de Deus", salienta, em entrevista à Lusa.
"Os comentários podem ser gatilhos para passarem do pensamento à ação", alerta a ativista recordando que existem muitas pessoas depressivas a ler as mensagens de ódio, e que podem causar desfechos trágicos.
Apesar de manter uma postura calma enquanto reage aos comentários negativos, conta à Lusa que quando começou a ler as mensagens publicadas nas redes sociais sobre o suicídio de Rose, uma jovem portuguesa transexual de 15 anos, não se conseguiu controlar: "Perguntei em quase todos os comentários: é melhor uma morte, ou amor? Que raio de pessoa é você? Onde tem o coração? Onde ficou o seu amor ao próximo? Denunciei os comentários, mas o Facebook responde sempre que tal mensagem não desrespeita a comunidade. Que raio de regras tem o Facebook?"
A Comissão Europeia revelou no mês passado que em 2022 as empresas tecnológicas tomaram menos medidas para reduzir o discurso de ódio na internet, segundo o relatório anual do Código de Conduta da Comissão Europeia contra este fenómeno.
O relatório revela uma queda no número de notificações analisadas pelas empresas (de 90,4% em 2020, 81% em 2021, para 64,4% este ano).
Já a taxa de remoção do conteúdo reportado foi de 63,6%, também abaixo dos 71% em 2020 e, ao contrário do Facebook e do Twitter, apenas o YouTube melhorou os seus controlos nos últimos dois anos.
Ângela Sampaio descreve à Lusa que os autores dos comentários negativos "são pessoas infelizes e que não sabem quem são e que só estão ali para descarregar ódio", e é por isso "que as pessoas deveriam colocar-se no lugar do outro", porque "zelar pelo próximo é um dever enquanto ser humano", apela, em entrevista à Lusa.
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