"Fico sempre chocada quando é um magistrado, quando é um padre, quando é um pai" que maltrata ou abusa de uma criança, disse Manuela Eanes, questionada sobre os casos divulgados recentemente que envolvem membros da Igreja Católica em Portugal.
"Criámos há 40 anos o Instituto de Apoio à Criança" numa altura em que "nem os jornais nem a televisão falavam em crianças maltratadas e abusadas, que é o crime mais monstruoso e mais repugnante que pode haver", disse Manuela Eanes, que se assume como católica.
A ex-primeira-dama de Portugal falava aos jornalistas à margem da inauguração do Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro, em Querença, concelho de Loulé.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.
A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo.
O Instituto de Apoio à Criança (IAC), fundado em 1983 por Manuela Eanes, na altura primeira-dama de Portugal, é uma instituição de solidariedade social portuguesa que vista promover e proteger os direitos da criança.
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