Um português de 42 anos revelou ao jornal Expresso que, em setembro de 2018, denunciou casos de abuso físico e sexual a Dalai Lama, ocorridos num templo budista do Algarve, sobre os quais, até hoje, "nada foi feito".
De acordo com Ricardo Mendes, a reunião com o líder espiritual do Tibete, juntamente com outras três mulheres, ocorreu em Roterdão, nos Países Baixos.
Durante o encontro, o grupo reportou a Dalai Lama 12 episódios de abusos físicos e sexuais, de que foram também vítimas, praticados por diferentes professores budistas durante retiros espirituais espalhados pelo mundo, nomeadamente em Portugal.
Na altura, Dalai Lama deu "esperança" ao grupo, dizendo-lhes que "tinha recebido as munições para atuar". Contudo, até agora "nada foi feito", contou Ricardo Mendes ao jornal Expresso.
"Nunca obtivemos nenhuma resposta"
As mesmas queixas são feitas na página de Facebook da Associação OKC Info, que o português encabeça desde 2015 e que representa dezenas de vítimas de abusos protagonizados por Robert Spatz, o guru budista que liderou a comunidade Ogyen Kunzang Chöling (OKC), no Algarve, e que foi, entretanto, condenado pela justiça belga a cinco anos de pena suspensa pelos crimes de abuso sexual, sequestro de menores e branqueamento de capitais.
Numa das publicações da associação, o grupo revela mesmo que "após falta de ação por parte de Dalai Lama", em 2018, tentaram, novamente, em 2021, "que este retirasse o seu apoio à OKC" mas, até ao momento, não receberam "nenhuma resposta".
Dez das vítimas são portuguesas
Ao Expresso, Ricardo Mendes revelou ainda que conhece bem o guru Robert Spatz pois também foi uma das suas vítimas, neste caso de abusos físicos e psicológicos. "Era como uma prisão invisível. Ninguém saía dali por medo. Não sabíamos nada do mundo exterior", afiançou.
Entretanto, o grupo já conseguiu reunir o testemunho de 40 vítimas de Robert Spatz. Dez são portuguesas.
Recorde-se que, esta semana, um vídeo que se tornou viral mostra Dalai Lama a beijar um menino a quem pediu para lhe "chupar a língua". O gabinete do monge budista "lamentou o incidente", garantindo que Dalai Lama "provoca frequentemente" as pessoas "de forma inocente e brincalhona".
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