"Enquanto decorrem as investigações, decidimos suspender todas as atividades de Boaventura de Sousa Santos no Clacso", avançou em comunicado a comissão diretiva da instituição não-governamental, que reúne 836 centros de pesquisa e pós-graduação na área de ciências sociais e humanas de dezenas de países.
A organização referiu ainda que, perante a notoriedade pública dos acontecimentos ocorridos no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, o "Clacso reafirma a sua posição de tolerância zero e de rejeição absoluta do assédio sexual e expressa a sua solidariedade com todas as pessoas afetadas por esta forma de violência".
"Apelamos também a uma reflexão profunda sobre o assédio sexual em instituições académicas e de investigação que não sejam alheias às relações de poder que produzem laços desiguais e geram violência e assédio", referiram os responsáveis da instituição.
O jornal uruguaio La Diaria publicou, em novembro de 2022, uma entrevista com Boaventura Sousa Franco, com o título "Não consigo imaginar uma sociedade capitalista que não seja racista e sexista".
Na semana passada foram tornadas públicas acusações de assédio sexual feitas por três ex-investigadoras do CES a dois professores -- Boaventura Sousa Santos e Bruno Sena Martins -- que negaram todas as acusações.
As três investigadoras que passaram pelo CES denunciaram situações de assédio e violência sexual por estes dois membros do centro de estudos, num capítulo do livro intitulado "Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade", publicado pela editora internacional Routledge.
Num comunicado divulgado na sexta-feira, Boaventura de Sousa Santos refere que decidiu afastar-se das atividades do CES, para que "a instituição possa fazer, com toda a independência que é necessária, as averiguações das informações apresentadas e dar consequência ao processo de apuração interna" através de uma comissão independente.
Também o próprio CES informou na sexta-feira que os investigadores estão "suspensos de todos os cargos que ocupavam" na instituição até ao apuramento das conclusões da comissão independente que vai averiguar as acusações.
Boaventura de Sousa Santos é diretor emérito do CES e coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa daquela instituição, fazendo também parte da comissão permanente do conselho científico do centro de estudos.
Já Bruno Sena Martins, formado em Antropologia, é, de acordo com o 'site' do CES, co-coordenador do programa de doutoramento Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas e docente no programa de doutoramento Pós-Colonialismos e Cidadania Global, tendo sido vice-presidente do conselho científico entre 2017 e 2019.
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