Nas salas da Assembleia da República onde costumam reunir-se as várias comissões parlamentares, as cadeiras habitualmente ocupadas pelos membros de cada grupo estavam reservadas para alunos que, durante toda a tarde, discutiram medidas sobre a saúde mental dos jovens.
Na edição deste ano do Parlamento dos Jovens para os alunos do 3.º ciclo, estiveram em cima da mesa mais de 80 medidas, desde a redução da carga horária letiva, o reforço de psicólogos nas escolas e no Serviço Nacional de Saúde ou a inclusão da prática de atividades de reflexão e relaxamento nos programas.
Poderá ter sido a primeira de muitas experiências na política para muitos daqueles jovens e Bárbara Galante espera ser um desses exemplos. Com 14 anos, nunca tinha visitado a Assembleia da República e hoje pôde fazê-lo quase como se fosse mesmo deputada.
Quando chegar ao ensino superior, o plano é seguir Medicina, mas, à agência Lusa, Bárbara não esconde a vontade de, um dia, poder regressar ao parlamento como deputada eleita. "Seria o meu sonho", sublinhou a aluna do distrito de Castelo Branco.
O seu círculo trouxe à discussão vários projetos sobre saúde mental, que acabaram por ser aprovados pela maioria, como a organização de sessões quinzenais com psicólogos, a criação de grupos de jovens para partilha de experiências e a criação de um "cheque-psicólogo", a atribuir no início do ano letivo a todos os alunos.
Distribuídos por quatro comissões, os 134 jovens deputados, dos 22 círculos eleitorais, traziam propostas dedicadas ao tema da saúde mental, que apresentaram e discutiram na primeira parte das reuniões.
Foi uma espécie de debate na generalidade e na especialidade e, no final, cada comissão elegeu um projeto de recomendação que continuou depois a ser debatido na especialidade e a partir do qual seria redigido o texto final.
Pelas quatro salas, repetiam-se debates ricos nos argumentos, fosse por quem defendia as suas medidas, fossem por quem as questionava ou contestava, e, entre as intervenções rápidas de cada deputado, o burburinho era justificado por trocas de ideias para decidir o que iriam perguntar a seguir ou como responderiam às dúvidas levantadas.
"Peço que sejam rigorosos com o tempo" ou "tem de concluir, senhor deputado", dizia, por vezes, a deputada socialista Lúcia Araújo Silva, que conduzia os trabalhos de uma das comissões, numa dinâmica parecida à das reuniões das várias comissões parlamentares que, semanalmente, se realizam naquelas mesmas salas.
As semelhanças iam além do funcionamento das reuniões e notam-se também em alguns dos argumentos e medidas defendidos pelos estudantes: uns defendiam que as condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde são pouco atrativas, outros pediam aumentos salariais e houve até referências às injeções de capital na TAP.
"Estamos a debater algo que é para o futuro dos nossos jovens e, de certa forma, estamos a contribuir para decidir o futuro de Portugal. Acho que todos saímos mais beneficiados dos debates e conseguimos sair mais enriquecidos", considerou Bárbara Galante.
No final da reunião, em que Bárbara foi uma das deputadas mais interventivas, o deputado socialista Agostinho Santa, que conduzia os trabalhos, deixou um elogio aos pequenos parlamentares: "Efetivamente, há muitos jovens, muito mais novos que nós, que vão ter muita vida pela frente já com valores bem arreigados, com princípios bem estabelecidos e com um interesse no debate de temáticas tão importantes".
Na terça-feira, os alunos do 3.º ciclo voltam ao parlamento, dessa vez para uma reunião plenária, cuja abertura ficará a cargo do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, com intervenções do ministro da Educação, João Costa, e do presidente da Comissão de Educação e Ciência e deputado do PS, Alexandre Quintanilha.
Ao longo do dia, poderão colocar questões diretamente aos partidos e vão voltar a discutir as recomendações finais aprovadas hoje. Como acontece em sessões "a sério", o plenário termina com a votação final global.
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