"Infelizmente, o emprego deixou de ser uma garantia. O emprego, para as famílias muito vulneráveis, não salvaguarda as pessoas da situação de pobreza. (...) As pessoas têm um rendimento que sobe pouco e têm encargos que sobem muito", disse Rita Valadas.
Em declarações à Lusa por telefone, a presidente da Cáritas Portuguesa adiantou que a organização da Igreja Católica para a caridade social tem tido "um aumento quase permanente do número de pedidos de ajuda" desde a pandemia, agravado pela guerra na Ucrânia e pela subida do custo de vida.
Rita Valadas explicou que se trata de uma "evidência inultrapassável" e que os apoios "não conseguem garantir o equilíbrio" orçamental das famílias, alertando também para a situação dos imigrantes.
"As pessoas vêm com expectativas de vida (...) que não encontram, porque nós [em Portugal] não temos como oferecer a garantia do equilíbrio socioeconómico das famílias. Por isso, elas estão a recorrer à Cáritas, nalguns casos alterando completamente a configuração da vulnerabilidade social que existe no território", realçou.
Rita Valadas exemplificou com Beja, "uma cidade que não tinha muitas situações de sem abrigo" e que viu quintuplicar o número de pessoas a dormir na rua devido à imigração.
Apoiando as famílias que se encontram "na linha mais baixa da situação socioeconómica", a Cáritas Portuguesa ajuda as mais vulneráveis com alimentação, vestuário e auxílio psicológico.
A presidente da Cáritas alertou ainda para o previsível agravamento da situação de pobreza das famílias nos próximos meses, avisando que "não há como não acontecer".
"Os bons resultados do país ainda não têm consequências na vida das pessoas. (...) E ainda não há nada que nos diga que isso vai melhorar", sublinhou.
"Os custos da alimentação e dos bens essenciais não baixaram e, por enquanto, ainda que os cabazes possam baixar um bocadinho [de preço], não sei se isso vai fazer muita diferença na vida das famílias, porque os outros custos aumentam todos. O equilíbrio, no fim do dia, é tudo para a menor capacidade e não o maior bem-estar", acrescentou.
Leia Também: Parlamentos da CPLP querem assumir "responsabilidades acrescidas"