Líder da NATO vem a Portugal. Alguns pontos essenciais sobre esta visita
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, visita Portugal na quinta-feira, no âmbito de uma série de encontros que tem mantido com vários estados-membros da Aliança Atlântica, centrados no conflito na Ucrânia e antecedendo a cimeira da organização em julho.
© Reuters
País NATO
Na sua deslocação a Lisboa, o dirigente norueguês tem prevista uma reunião com o primeiro-ministro, António Costa, seguida de conferência de imprensa, nas quais os dois lideres deverão abordar a invasão na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro do ano passado, o reforço do apoio militar às forças ucranianas e a intenção de Kiev em aderir à NATO.
Alguns pontos essenciais da visita de Stoltenberg a Portugal:
Jornada diplomática
Nas últimas semanas, Jens Stoltenberg tem estado muito ativo na preparação da próxima cimeira da Aliança, a decorrer em Vílnius em 11 e 12 de julho, e no início de abril esteve na Finlândia para assistir à adesão deste país como 31.º Estado-membro da NATO, enquanto se aguarda a conclusão da integração da Suécia.
Na mesma altura, reuniu-se em Bruxelas com os ministros dos negócios estrangeiros da organização - e também com os chefes das diplomacias da Coreia do Sul, Japão, Austrália e Nova Zelândia -, tendo sustentado que o objetivo a "longo prazo é aproximar a Ucrânia da família transatlântica".
No dia 20 de abril, Stoltenberg visitou de surpresa Kiev e insistiu que a sua prioridade é uma vitória militar ucraniana sobre a Rússia.
Já em 27 de abril, o secretário-geral da Aliança Atlântica, recebeu o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel e depois reuniu-se com o Comité Militar da NATO, em Bruxelas.
Além destes encontros, o secretário-geral da NATO avistou-se nas últimas semanas com o primeiro-ministro da Estónia, o Presidente da República Checa e chefe de governo do Reino Unido, e interveio em Copenhaga na Cimeira Democracia.
Para 15 e 16 de junho está prevista uma reunião com os ministros da Defesa da Aliança.
Adesão da Ucrânia à NATO
O ministro da Defesa ucraniano defendeu na terça-feira que "não há alternativa" à adesão da Ucrânia à NATO e insistiu na ideia de que a antiga república soviética é o "escudo da Europa" para fazer frente à ameaça russa.
Esta é uma ideia acompanhada por vários estados-membros da Aliança Atlântica, a começar pelos países nórdicos e pela Polónia, mas que ainda merece relutância de outros países da organização, incluindo Portugal, que receiam uma escalada do conflito, envolvendo os países de ocidente e Moscovo.
Stoltenberg já confirmou que a questão da adesão da Ucrânia à Aliança será debatida em julho na cimeira da organização
Na sua visita surpresa a Kiev, em 20 de abril, o líder da NATO ouviu do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que "chegou a hora" de a Aliança Atlântica convidar a Ucrânia para se juntar à organização.
Já na segunda-feira, o secretário-geral da NATO manifestou-se favorável à concertação na próxima cimeira de um programa plurianual de apoio à Ucrânia que permita Kiev avançar para os padrões da organização, tanto em equipamentos quanto em doutrina militar, e assim tornar-se totalmente operacional com a Aliança", disse Stoltenberg numa intervenção na Cimeira da Democracia de Copenhaga,
Em 04 de abril, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, afirmou que "não é no decurso de uma guerra que podemos falar de novas adesões", explicando que neste momento "a Ucrânia necessitará de ter garantias de segurança".
A mesma ideia foi repetida pelo presidente do parlamento português, Augusto Santos Silva, que, na sua visita a Kiev, em 02 de maio, reiterou o apoio de Portugal ao processo de adesão de Kiev à União Europeia mas foi mais cauteloso em relação à integração da Ucrânia na NATO, em período de guerra.
Aumento de orçamento na defesa
Na última reunião do Comité Militar da NATO, em Bruxelas, Stoltenberg pediu a continuação do apoio à Ucrânia no conflito contra a Rússia e "coragem política" aos 31 aliados para aumentarem os gastos com defesa, num mínimo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e incrementar a produção de armas.
Na segunda-feira, na sua intervenção em Copenhaga, o secretário-geral da NATO voltou ao assunto e pediu que aquele valor indicativo "não seja um teto, mas um mínimo que todos os aliados devem fornecer imediatamente e não numa década".
Portugal foi o 9.º Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que menos percentagem do PIB dedicou à Defesa em 2022, embora se tenha aproximado ligeiramente da meta de 02 por cento do PIB (1,38%) e preveja aumentar a despesa para 1,66% este ano - um objetivo que estava inicialmente traçado para 2024 -- e atingir os 2% até ao final da década.
De 2014 até ao último ano, a generalidade dos países aumentou a despesa, só a Turquia e Montenegro investem menos hoje em defesa do que naquela altura.
Apoio militar à Ucrânia
Até ao fim de abril, os Estados-membros da Organização da NATO disponibilizaram à Ucrânia mais de 1.500 veículos blindados e 230 tanques desde o início da invasão da Federação Russa.
Estas quantidades, segundo Stoltenberg, "correspondem a 98& do equipamento prometido" às Forças Armadas da Ucrânia para ajudar a repelir a invasão russa, incluindo o envio de tanques modernos, como os alemães Leopard 2, de fabrico alemão, que Berlim estava relutante em autorizar, mas o que veio a acontecer, incluindo três veículos portugueses (a juntar a blindados M113, geradores elétricos, munições e viaturas de socorro), tal como os Challenger 2 do Reino Unido e futuramente os norte-americanos Abrams.
Contudo, o secretário-geral da Aliança Atlântica alertou para o perigo de "subestimar a Rússia", uma vez que "aquilo que está a falhar em qualidade" no campo de batalha, "está a compensar em quantidade".
Na mesma altura, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andri Melnik, disse que a Ucrânia precisa de "dez vezes mais de ajuda militar" do que aquela que dispõe para derrotar a Rússia, no que foi secundado por Zelensky, que disse não ter ainda o necessário para a esperada contraofensiva contra as linhas russas no leste e sul do país.
A par de Stoltenberg, Zelensky tem estado nos últimos dias numa intensa atividade diplomática, que o levou a Berlim, Paris, Roma e Londres, tendo agradecido o apoio de armas, tanques, munições, mísseis de longo alcance e sofisticados sistemas de defesa aérea.
Caças modernos
O Reino Unido anunciou na terça-feira a intenção de criar uma coligação internacional para ajudar a Ucrânia a obter caças norte-americanos F-16, após uma reunião entre o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o seu homólogo holandês, Mark Rutte.
Na véspera, o Presidente ucraniano agradeceu ao Reino Unido por enviar mísseis de longo alcance Storm Shadow e por concordar em formar pilotos ucranianos, afirmando esperar que França e outros países deem também formação.
No mesmo dia, o Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que "abriu a porta a formar" pilotos ucranianos de aviões de combate "a partir de agora".
"Vários outros países europeus estão prontos para isso. Acredito que as discussões estão em andamento com os americanos", declarou o Presidente francês em entrevista ao canal TF1, considerando por outro lado que uma possível entrega futura de aviões de combate a Kiev "seria um debate teórico".
O fornecimento de F-16 é um desejo assumido desde há bastante tempo além de Kiev, pela Polónia, país vizinho da Ucrânia e que tem investido fortemente na sua defesa, e que anunciou que a Ucrânia já recebeu 28 aviões de combate enviados por países ocidentais, 14 dos quais são MiG-29 entregues por Varsóvia.
Em entrevista à Lusa, em março passado, por ocasião do primeiro ano de guerra na Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros afastou a possibilidade de fornecer F-16 da Força Aérea Portuguesa a Kiev.
Mas, tal como nos tanques modernos e pesados, reforço de munições, sistemas de antiaérea, pacotes financeiros de ajuda a Kiev e reforço de sanções a Moscovo e seus aliados, este poderá não ser um tema fechado na mesa de conversações entre Costa e Stoltenberg.
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