Em causa está a produção "Aigua / Água", que terá duas exibições no centro histórico da referida cidade do distrito de Aveiro, exigindo de três artistas uma performance "sem margem para erro", dado o seu desempenho num cabo disposto 10 metros acima do solo, sobre vários cubos de aço.
"Este espetáculo é um desafio do princípio ao fim por se tratar de uma coreografia de 58 minutos em que os artistas não têm margem para erro, já que a água e o sistema de som estão sincronizados e não há pausas, pelo que, mal a atuação começa, não há volta atrás", declara Alba Blanco, codiretora do coletivo catalão e uma das intérpretes em cena.
O grau de exigência prende-se ainda com a segurança dos artistas, como nota Xavi Castelló, também acrobata e codiretor da companhia, ao mencionar "o risco" associado, por um lado, ao trabalho em altura, "sem rede de segurança", e, por outro, aos passos de dança, brincadeiras e jogos de equilíbrio que, envolvendo objetos metálicos, obrigam a uma "sincronia perfeita com os seus movimentos pendulares".
Todos esses aspetos visam transmitir ao público várias mensagens: "A de que é preciso cuidar da água porque, sem ela, não há vida. A de que é preciso partilhar recursos, sem os desperdiçar e demonstrando empatia para com as necessidades de todos. E ainda a de que é preciso amizade, porque a solidão faz-nos mirrar e secar".
Lembrando que "Aigua" já teve várias exibições desde a sua estreia em 2018, Alba Blanco antecipa reações diversas por parte dos espectadores. "É muito surpreendente, mas esta linguagem conceptual, a meio caminho entre o teatro, a dança e o circo, deixa muita abertura à interpretação de cada um", explica.
Essa multidisciplinaridade afeta particularmente seniores e crianças: "Vemo-las a deixarem-se arrastar pela história e pela música, que é uma parte muito importante do espetáculo, e a extravasar as suas emoções, chorando, rindo e, em geral, vivendo, que é o que todos pretendemos".
Quanto à perspetiva ambiental e social visada pelo conteúdo de "Aigua", os diretores do Xa Teatre defendem que esse recurso "está a ser contaminado e desperdiçado de modo totalmente insustentável" a nível global e que "as políticas da água estão mal planeadas em todo o mundo" -- no que um dos exemplos mais próximos é o relativo à gestão de rios cujo caudal é comum a Portugal e Espanha, e cuja sustentabilidade, num país, é influenciada por ações ocorridas no outro.
Alba Banca e Xavi Castelló garantem, contudo, que "o problema vai além de Portugal e Espanha", e, nesse contexto, realçam o poder da ação a solo: "É certo que é pouco o que cada um pode fazer a nível individual, mas é muito o que podemos e devemos exigir aos governos -- e esse, sim, é o papel que cabe a cada um de nós".
Referindo-se a "grandes desastres" como o risco de desaparecimento do Parque Nacional de Doñana e a morte de várias espécies do Mar Menor, no primeiro caso devido à seca e no segundo à pecuária intensiva, Alba Blanca afirma: "Devemos tomar posição, exigir que se pare a contaminação, pedir que se gira o uso da água de outra maneira e que se apliquem soluções -- muitas delas já existentes, mas não aplicadas devido aos custos e falta de vontade. Toda a cidadania parece adormecida; há que despertar e gritar bem forte 'Já basta!'".
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