Um levantamento realizado pela Anpri revelava que a maioria dos alunos não tinha conseguido realizar a prova de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no tempo estipulado, sendo um dos principais motivos os problemas técnicos registados durante a prova digital.
O estudo foi hoje recordado no parlamento pela Iniciativa Liberal que criticou a forma como o Ministério da Educação está a levar a cabo o projeto que prevê que em 2025 todas as provas e exames nacionais passem a ser em formato digital.
"A fonte dos seus dados foi a Associação Nacional de Professores de Informática, que faz parte do Conselho Cientifico do IAVE, e pôs cá fora um relatório que não tem adesão à realidade", afirmou João Costa, que está a ser ouvido pelo parlamento, num debate de atualidade requerido pelo BE.
Todas as provas de aferição dos 2.º, 5.º e 8.º anos estão a ser realizadas, pela primeira vez este ano, em formato digital, estando previsto alargar a medida em 2024 às provas nacionais do 9.º ano e, em 2025, aos exames nacionais do secundário.
"Quando temos provas em papel há 20 anos e todos os anos há problemas, alguém esperava que, numa transição desta natureza, o primeiro dia fosse um dia em que tudo corre bem?", questionou João Costa, sublinhando contudo que "os resultados da prova TIC em formato digital "nada têm a ver" com os resultados do estudo divulgado na semana passada pela Anpri.
O ministro lembrou que a prova TIC foi realizada por cerca de 85 mil alunos do 8.º ano e que "foram respondidos 1 milhão e 757 mil itens, em média, os alunos não responderam a 1,3 itens dos 15 itens e isso é igualzinho ao valor em papel".
Os números do Ministério hoje divulgados indicam ainda que "63% realizaram a prova em menos tempo do que o necessário para a sua realização" e que "só 9% dos alunos" precisaram de direito a tempo extra para concluir a prova.
O inquérito da Anpri concluía que apenas um em cada quatro alunos tinha conseguido realizar a prova nos 90 minutos definidos e que o motivo estava essencialmente ligado a problemas técnicos.
O relatório apontava que a maioria dos alunos tinha ficado com o computador "totalmente bloqueado", não conseguindo manusear o rato ou o teclado ou ficando sem acesso ao sistema operativo durante a prova.
Mas o debate de hoje continua mais centrado na recuperação do tempo de serviço congelado, a principal reivindicação dos professores que hoje voltaram a realizar uma greve nacional e duas manifestações: De manhã, no Porto, e à tarde em Lisboa.
"Entre 2018 e 2023 este Governo entrou numa paralisia em relação aos professores", acusou a deputada do BE Joana Mortágua.
"Podemos olhar para o copo meio cheio ou o copo meio vazio, mas a senhora deputada nem sequer vê o copo", acusou o deputado do PS, Tiago Martins, criticando a análise da deputada do Bloco de Esquerda ao processo de descongelamento.
As criticas à forma como o Governo está a gerir o dossiê vieram de todas as bancadas, com João Costa a defender que "são precisos dois para dançar o tango. O Governo recuou e do outro lado não é possível anunciar um passo que tenha sido dado para chegar a acordos e pequenos consensos".
Para o PSD, os últimos oito anos foram "anos perdidos sem nenhuma medida estrutural", nas palavras de João Cunha, que classificou aquele período como "oito anos de propaganda" e de "deterioração da escola pública como elevador social", um período "com menos professores, mais facilitismo e mais indisciplina".
Em resposta, João Costa recomendou ao deputado social-democrata que consulte os dados estatísticos oficiais que mostram que há hoje mais professores nas escolas.
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