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A "luta" do 'Titan'. O que pode ter acontecido e o que está em causa

O comandante da Esquadrilha da Subsuperfície da Marinha Portuguesa, Baptista Pereira, falou com o Notícias ao Minuto sobre o desaparecimento do 'Titan', o submarino com cinco pessoas que desapareceu numa viagem aos destroços do 'Titanic'. Perceba o que está em causa.

A "luta" do 'Titan'. O que pode ter acontecido e o que está em causa
Notícias ao Minuto

19:11 - 20/06/23 por Carmen Guilherme

País Titan

As autoridades continuam numa corrida contra o tempo para tentar encontrar o submersível com cinco pessoas que desapareceu numa viagem aos destroços do 'Titanic' e, por esta altura, parecem haver mais perguntas do que respostas sobre o sucedido.

O Notícias ao Minuto falou com o comandante da Esquadrilha da Subsuperfície da Marinha Portuguesa, Baptista Pereira, para ajudar a perceber melhor o que está em causa.

 "Podem ter acontecido três coisas" 

Segundo o comandante, "podem ter acontecido três coisas" ao submersível: "Ou teve uma avaria catastrófica, afundou-se e não há nada a fazer", ou "teve uma avaria menor e, portanto, está assente no fundo, sem hipótese de vir para cima, mas com os passageiros vivos a bordo", ou "está preso em algum destroço do 'Titanic', podendo ter-se aproximado excessivamente e, por algum motivo, ter ficado preso".

Como decorrem as operações?

Sobre o protocolo nestes casos e para entender melhor como estão a  decorrer as operações, o comandante Baptista Pereira explica:

"A empresa que é responsável [pelo submersível], a OceanGate, a partir do momento em que percebeu que não tinha condições 'per si' para fazer o salvamento, apelou para as autoridades com responsabilidade naquela matéria que, neste caso, são a Marinha, a Guarda Costeira dos Estados Unidos e também a Guarda Costeira do Canadá". A partir daí, "essas autoridades iniciam um processo de busca e salvamento do submarino, recorrendo a uma estrutura da NATO que existe, que é o ISMERLO (International Submarine Escape and Rescue Liaison Office) e essa entidade tem um conjunto de competências e de capacidades que podem, naturalmente, somar a todos os meios que a própria empresa lá colocou". 

Desta forma, "as aeronaves e os aviões de patrulha marítima americanos e canadianos estão a fazer uma busca de superfície, na esperança de encontrar o 'Titan' à superfície", podendo ele ter vindo à superfície, "longe dos destroços do 'Titanic', por qualquer motivo", sem capacidade "de dizer ao navio-mãe ‘estamos aqui’". Os aviões podem também procurar "um destroço" ou uma "mancha de óleo".

Entretanto, foram também para o local navios com capacidade de veículos remotos sem operador [ROVs], "que consigam mergulhar àquela profundidade", com "câmara e holofote", para procurar o 'Titan' e, no caso de encontrar, perceber "em que situação é que está e perceber se estamos a falar de uma operação de resgate de pessoas ou de uma operação que já não tem nada a fazer".

Uma "luta contra o tempo"

No entanto, Baptista Pereira admite que é uma "luta contra o tempo". "Isto passa-se a 650km da costa do Canadá e, portanto, qualquer navio com veículos desta natureza para chegar ali leva três ou quatro dias. É aí que o jogo se vai jogar, na rapidez com que estes navios podem chegar ao local da ação e desencadear uma busca naquela área. Isto partindo do princípio que ele esta ali relativamente perto, que se encontra com relativa facilidade, partindo de uma série de princípios que são muito difíceis de garantir logo à cabeça", nota.

Tripulantes devem "repousar o mais possível"

Interrogado sobre o que devem fazer os tripulantes neste caso, o comandante afirma que é necessário "vestir" a maior quantidade de roupa possível, "por causa da questão da hipotermia", e "devem repousar o mais possível por forma a consumir o mínimo possível de oxigénio e também produzirem o mínimo possível de dióxido de carbono".

No entanto, é preciso olhar para a natureza da situação. "Acredita que três pessoas ou quatro que não têm preparação nenhuma nesta matéria - mesmo as que têm dificilmente o fariam -  têm capacidade para estar a dormir?", questiona.

"Tenho muitas duvidas que tenham capacidade para resistir do ponto de vista da inteligência emocional, do equilíbrio emocional. Espero, honestamente que estejam vivos, espero que tenham conseguido organizar-se por forma a estarem nesta situação o mais quietos possível, na esperança que alguém os vá encontrar a tempo de os trazer para a superfície", destacou.

"Têm de ser trazidos para a superfície dentro da cápsula do 'Titan'"

É aqui que chegamos a outra questão importante, uma vez que os tripulantes "não podem ser resgatados a 3.800 metros de profundidade, têm de ser trazidos para a superfície dentro da cápsula do 'Titan'". 

Desta forma, é necessário içar o submersível, com o comandante a chamar à atenção para a "quantidade de cabo, a resistência" e a "dimensão da grua que tem de estar no local para içar uma coisa de 10 toneladas de 3.800 metros de profundidade". 

A cota de colapso

De realçar que a hipótese de a tripulação ainda estar viva tem como base a chamada cota de colapso, que "é a profundidade a partir da qual a estrutura metálica do submarino ou do submersível colapsa pura e simplesmente". Ou seja, "em vez de explodir, implode", explica, notando que ocorre um "esmagamento" da estrutura.

No site da OceanGate não se fala na cota de colapso, mas é possível ler que o 'Titan' está limitado a 4.000 metros de profundidade - podendo acrescentar-se "mais 10 ou 15% disso", ou seja, "4.400 a 4.500 metros", segundo o comandante. Por esta altura, ao que tudo indica, o submarino está por volta dos 3.800 metros, estando assim acima da cota de colapso.

"Eles perderam comunicações domingo a 3.000 metros profundidade. Não estava muito longe dos destroços do 'Titanic', o que que quer dizer que a flecha não andará muito longe dos destroços (...) a não ser que exista uma fossa de qualquer natureza muito mais profunda", frisou.

"Não tenho noticia de um acidente desta natureza ter sequer ocorrido"

Baptista Pereira admite que há "muito mais perguntas do que respostas", num caso que é "muito complexo". O comandante admite ainda que não tem memória "de nenhuma situação" semelhante, "envolvendo um submarino civil, cientifico ou turístico".

"Não tenho noticia de um acidente desta natureza ter sequer ocorrido", disse, lembrando que, nos últimos 15 anos, há registo de três acidentes com submarinos militares e que "os resultados são aqueles que se sabem", sem um final feliz. 

Recorde-se que o submarino 'Titan' transporta um piloto, o empresário britânico Hamish Harding, que já tinha feito um passeio espacial, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e o filho, e um quinto passageiro, segundo tem sido adiantado pela imprensa internacional.

A empresa OceanGate Expeditions, proprietária da embarcação e organizadora das viagens aos destroços do 'Titanic', revelou que a comunicação com o submarino perdeu-se 45 minutos após o início do mergulho, no domingo à noite (hora local).

O submersível tinha uma reserva de oxigénio de 96 horas quando se fez ao mar.

Leia Também: Em 2017, um submarino também desapareceu. Demorou um ano a ser encontrado

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