Mais incêndios e seca mais prolongada em parque naturais do Norte

Um estudo em três áreas protegidas do Norte do país identificou uma tendência de agravamento da ocorrência de incêndios florestais, redução dos recursos hídricos disponíveis e contínuo recuo da linha da costa, com impacto direto e indireto no turismo.

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Lusa
21/06/2023 13:33 ‧ 21/06/2023 por Lusa

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Estudo

As conclusões constam do relatório final do projeto CLICTOUR, cujos resultados são hoje apresentados, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em Braga, e cuja análise das tendências de evolução climática permitiu identificar alguns impactos previsíveis nas áreas naturais protegidas do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), Parque Natural do Alvão (PNA) e do Parque Natural do Litoral Norte (PNLN).

"Podemos destacar os relativos ao agravamento da ocorrência de incêndios florestais, decorrente da previsível subida das temperaturas e alargamento do período estival (principalmente no PNPG e no PNA), a redução dos recursos hídricos disponíveis, causada pela redução na precipitação no cenário mais gravoso, e o contínuo recuo da linha de costa (particularmente no PNLN)", lê-se no documento a que a Lusa teve hoje acesso.

Nas três áreas protegidas foram avaliadas a temperatura (máxima e mínima) e a precipitação, tendo sido observado um aumento do período de seca entre junho e setembro e o aumento da temperatura máxima para além dos meses de verão, com extensão de altas temperaturas para os meses de abril, maio e setembro a novembro, nos cenários RCP (Rota de Concentração Representativa, relativa a concentração de gases de efeito de estufa) 5 (moderado) e 8.5 (extremo).

De acordo com o documento a que a Lusa teve acesso, a temperatura mínima tem maior aumento entre os períodos 2041-2060 a 2061-2080, com +0,78°C, enquanto a temperatura máxima tem aumento médio de 1,25°C no mesmo período, no cenário mais moderado.

No cenário extremo, o maior aumento da temperatura mínima é registado no período 2061-2080 a 2081-2100 com +1,4 °C, enquanto a temperatura máxima aumenta 1,79 °C no mesmo período.

Perante este cenário, alertam os investigadores, "há tendência de aumento de ondas de calor, nos meses de primavera, verão e outono, um indicador que, em conjunto com a diminuição da humidade do ar, em consequência destas ondas de calor, pode contribuir para o incremento de eventos como incêndios e escassez de água".

Como impactos principais, os investigadores apontam ainda as alterações dos ecossistemas e redução da biodiversidade, as consequências para a agricultura e o empobrecimento dos solos.

Estes fenómenos produzem ainda impactos diretos e indiretos no setor do turismo, nomeadamente ao nível da segurança na prática de atividades turísticas e riscos para a saúde associados, ou até na redução da qualidade da paisagem.

O estudo aborda ainda o impacto significativo das catástrofes como as do ano de 2017, na economia portuguesa, revelando que são os setores primários, excluindo o das pescas, os que registam maiores quebras de produção.

Os efeitos de arrastamento afetam, contudo, a maioria dos setores económicos, incluindo os ligados ao turismo.

Segundo os investigadores, os resultados sugerem que políticas de reconstrução e adaptação são fundamentais para minimizar os impactos adversos das catástrofes, defendendo a necessidade de melhorar as infraestruturas turísticas existentes e implementar estratégias para tornar o turismo nas zonas florestais mais atrativo.

Debruçando-se sobre a aplicação de taxas turísticas nestas áreas protegidas, o projeto CLICTOUR concluiu também que o turismo não deve ser percecionado como uma fonte de crescimento económico sem custos, defendendo que deve ser considerada a sua introdução destas taxas.

A sua aplicação, revelam, pode dar origem a um aumento da receita total até cerca de 3% nos municípios pertencentes ao PNA, ao PNPG e ao PNLN.

O trabalho de investigação apresenta ainda um roteiro para um turismo sustentável nestas áreas, onde, defendem ser fundamental mecanismos de monitorização da evolução do seu impacto por forma a ajustar as estratégias de acordo com as mudanças climáticas e socioeconómicas.

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