"Acho que é uma homenagem à juventude portuguesa", afirmou o bispo auxiliar de Lisboa em declarações aos jornalistas no Entreposto Logístico de Setúbal, onde voluntários preparam a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que vai acontecer em Lisboa e em Loures na primeira semana de agosto.
O Papa Francisco anunciou hoje, no Vaticano, que vai nomear 21 novos cardeais, no consistório de 30 de setembro, entre os quais o bispo Américo Aguiar, o único português do grupo.
"Eu li [a decisão] como um gesto do Papa Francisco em relação aos jovens e ao que nos diz insistentemente, de os jovens se levantarem e assumirem o protagonismo nas suas vidas. [...] Nós somos meros intermediários que vamos ajudar a que isso possa ser ainda mais incentivado junto dos jovens", disse Américo Aguiar, que é também o responsável máximo da Igreja Portuguesa pela realização da JMJ.
O bispo auxiliar de Lisboa admitiu ter sido surpreendido com a notícia, considerando que o cargo de cardeal representa uma responsabilidade acrescida e que a decisão do Papa não teve a ver com as suas competências, mas sim com a dedicação dos jovens envolvidos na preparação e realização da JMJ.
"Ninguém sonha ser cardeal, acho eu, só se não tiver juízo", apontou Américo Aguiar, com humor.
O presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude agradeceu as "centenas de mensagens" que tem recebido desde o anúncio do Papa, incluindo de governantes, e reiterou que a decisão deve ser interpretada como uma "homenagem a Portugal, aos portugueses, mas acima de tudo aos jovens", como um "gesto de proximidade e alegria do Papa Francisco [para com] os jovens portugueses".
Questionado se ficou emocionado com a notícia, Américo Aguiar desculpou as lágrimas nos olhos com o pó do armazém, recorrendo várias vezes ao humor durante as declarações aos jornalistas.
O bispo garantiu estar à altura do desafio, até porque mede 1,80 metros, porém, quando se comparou com os restantes cardeais, admitiu sentir-se "um danoninho", numa alusão a uma marca de iogurtes pequenos.
"[Sinto] um misto de alegria e de aflição e de consciência de que eu sou muito pequenino", admitiu.
Os futuros cardeais têm várias nacionalidades e incluem os prefeitos do Dicastério para a Doutrina da Fé, o arcebispo Victor Manuel Fernandez, do Dicastério para os Bispos, Robert Francis Prevost, e do Dicastério para as Igrejas Orientais, Claudio Gugerotti.
O Papa nomeou também o bispo Stephen Chriw Sau-yan, de Hong Kong, e o patriarca latino de Jerusalém, monsenhor Pierbattista Pizzaballa.
Da lista de 21 nomes, três terão mais de 80 anos no momento da sua criação como cardeal.
"Rezemos pelos novos cardeais, para que, confirmando a sua adesão a Cristo, misericordioso e fiel sumo-sacerdote, eles possam ajudar-me no meu ministério como bispo de Roma para o bem de todo o santo povo fiel de Deus", disse o Papa, citado pela agência italiana ANSA.
Américo vai ser o 48.º cardeal português, segundo a Ecclesia.
Com 49 anos, é natural de Leça do Balio, Matosinhos, e desempenhou as funções de pároco de São Pero de Azevedo (Campanhã) entre 2001 e 2002, foi notário da Cúria Diocesana do Porto entre 2001 e 2004, chefe do gabinete de informação e comunicação da Diocese do Porto entre 2002 e 2015, vigário geral e chefe de gabinete dos bispos Armindo Lopes Coelho, Manuel Clemente e António Francisco dos Santos, tendo exercido as funções de capelão-mor da Misericórdia do Porto.
Foi também pároco da Sé entre 2014 e 2015 e foi nomeado cónego do Cabido da Sé do Porto em 2017.
Desde 2011, preside à direção da Irmandade dos Clérigos e, em 2016, assumiu a presidência do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia, além de desempenhar as funções de diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, organismo da Conferência Episcopal Portuguesa.
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