Estas foram as primeiras declarações do maior acionista do grupo Altice, que falava numa 'call' com obrigacionistas via 'online'.
"Isso foi um choque e uma grande deceção para mim", começou por dizer Patrick Drahi.
No centro das investigações está Armando Pereira, que fundou a Altice com o multimilionário franco-israelita-português Patrick Drahi, e que foi conselheiro do CEO e da Comissão Executiva da Altice France.
"Se essas alegações forem verdadeiras, sinto-me traído e enganado por um pequeno grupo de indivíduos, incluindo um de nossos colegas mais antigos", acrescentou.
Na intervenção inicial, Patrick Drahi abordou a 'Operação Picoas', desencadeada em 13 de julho, que levou a várias detenções -- entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira --, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público (MP). Esta foi uma ação conjunta do MP e da Autoridade Tributária (AT).
"No mês passado, tomámos conhecimento de que as autoridades portuguesas estão a investigar alegações de práticas lesivas por parte de certos indivíduos e entidades relacionadas com o grupo Altice", disse, referindo ter-se sentido chocado com a situação.
"Alguns indivíduos, nomeadamente da parte das equipas de compras, esconderam cuidadosamente as suas ações de mim, dos seus colegas e do grupo", prosseguiu o gestor.
"Acredito que esses indivíduos, se as alegações forem comprovadas, tiraram vantagem de sua posição às custas do grupo e, portanto, também às minhas custas pessoais", acrescentou, asseverando que o grupo está a levar "este assunto muito a sério".
A Altice está "a tomar medidas proativas rápidas para entender a verdade e proteger o grupo de qualquer dano caso estas alegações sejam comprovadas", salientou.
Aliás, "depois de saber da investigação das autoridades portuguesas em 13 de julho, agimos imediatamente", disse Patrick Drahi.
O multimilionário referiu que em Portugal, a Altice está a "cooperar plenamente" com as autoridades portuguesas, foram lançadas investigações internacionais em vários países, incluindo a contratação de escritórios de advocacia para conduzir uma análise independente, bem como a nomeação de consultores externos, o que inclui auditores forenses.
Atualmente, "e tanto quanto é do nosso conhecimento, o âmbito da investigação judicial está limitado a Portugal", apontou.
"Internamente, identificámos que entidades da Altice fora de Portugal têm feito negócios com os fornecedores afetados, identificados pelas autoridades portuguesas. Assim, estamos a realizar uma investigação interna exaustiva para avaliar qualquer risco potencial para o grupo Altice como um todo, o que significa que estão a decorrer investigações internas em várias das nossas principais jurisdições", referiu Patrick Drahi.
Apesar das investigações do grupo estarem a decorrer, "estimamos que no caso que diz respeito uma pequena parte das nossas compras globais, de baixo a médio dígito das nossas despesas totais, nomeadamente concentradas em compras técnicas, sendo o valor potencialmente fraudulento apenas na margem ou comissão sobre tais volumes", apontou.
Desde o dia que arrancou a 'Operação Picoas' que o "nosso objetivo é esclarecer o curso preciso dos acontecimentos, revelar a verdade e proteger os interesses do grupo", garantiu, insistindo que a Altice quer ser transparente com todos os 'stakeholders' e atualizá-los "o máximo possível" sobre a posição do grupo.
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