Para a representante permanente de Portugal junto das Nações Unidas (ONU), Ana Paula Zacarias, "coerência" é a palavra-chave na campanha portuguesa para o Conselho de Segurança, e o papel de Portugal como construtor de pontes na área política ou na ligação "Norte-Sul" global já é bem conhecido pelos Estados-Membros das Nações Unidas.
"A nossa candidatura está a avançar, eu diria que bem (...). Estamos a fazer o nosso trabalho e o nosso trabalho significa uma coisa: manter a coerência, assegurar a coerência e a imagem que Portugal tem, bastante positiva, aqui nas Nações Unidas", disse a embaixadora, em entrevista à Lusa em Nova Iorque.
"Ao longo dos anos, nós temos vindo a apoiar um conjunto de ideias e de programas bastante claros. Todos sabem nas Nações Unidas que Portugal trabalha em prol dos oceanos, que defende o trabalho de luta contra as alterações climáticas, que Portugal é um construtor de pontes na área política, que tem trabalhado muito nesta área do financiamento para o desenvolvimento, na área dos direitos humanos, em tudo o que tem a ver com a ideia de construir um mundo mais próspero e fazer esta ligação Norte-Sul, onde Portugal tem tido sempre um papel de relevo", sublinhou.
A eleição em causa para o Conselho de Segurança - um dos órgão mais importantes das Nações Unidas, cujo mandato é zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional - acontecerá em 2026, para o biénio 2027/2028.
Portugal terá como adversários diretos a Alemanha e a Áustria, numa disputa pelos dois lugares de membros não-permanentes atribuídos ao grupo da Europa Ocidental e Outros Estados.
A candidatura foi formalizada em janeiro de 2013 e as eleições para o referido mandato realizar-se-ão durante a 81.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2026, ano em que António Guterres terminará o seu segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU.
De acordo com Ana Paula Zacarias, a aposta de Portugal na prevenção de conflitos poderá pesar a seu favor, numa campanha que envolverá ainda a questão das novas tecnologias aplicadas ao armamento.
"O Conselho de Segurança tem a ver, obviamente, com paz, com segurança. Mas Portugal tem-se posicionado também como um país que aposta na prevenção. Temos dito muitas vezes que é necessário reforçar o papel da prevenção de conflitos, o papel da construção da paz antes que os conflitos aconteçam. E isso é um tema que também seguramente traremos aqui", disse.
"Outro tema que nos é caro nesta área da segurança e da paz, além da participação que Portugal tem tido nas missões de paz, é a questão das novas tecnologias, por exemplo, da inteligência artificial aplicada a diferentes formas de armamento. Será um dos elementos da campanha de Portugal esta questão das novas tecnologias e das armas", acrescentou.
Portugal já foi membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU por três vezes: em 1979-1980, 1997-1998 e 2011-2012.
Por sua vez, a Alemanha - que ambiciona um assento permanente no Conselho de Segurança - já integrou o órgão por seis vezes - mais recentemente em 2019-2020 - , e a Áustria conseguiu ser eleita em três ocasiões.
"Portanto, eu acho que a nossa campanha vai-se desenvolvendo, vai criando raízes, vamos trabalhando e vamos, sobretudo, construindo a coerência dos nossos programas aqui nas Nações Unidas. E, no momento certo, faremos o anúncio 'urbi et orbi' (por toda a parte) da nossa campanha, já com materiais e com outros elementos. Mas ela vai avançando com muita coerência", concluiu a embaixadora.
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