O ministério da Defesa volta a estar nas ‘luzes da ribalta’, esta sexta-feira, depois de serem conhecidas declarações de Paulo Branco, ex-responsável financeiro da Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional – e arguido na Operação Tempestade Perfeita.
O testemunho do agora arguido nesta operação, que envolve crimes de corrupção e branqueamento de capitais, é de 27 julho, e, segundo avança o Expresso, foi dado à procuradora do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.
De acordo com o semanário, Paulo Branco acusou o ex-ministro da Defesa João Gomes Cravinho de ser cúmplice na realização de um contrato de assessoria fictícia, que terá, de acordo com as suas palavras, servido para "pôr as contas em dia" com Marco Capitão Ferreira, ex-secretário de Estado da Defesa. O ex-responsável saiu do Governo no final de julho, após ser constituído arguido por corrupção no âmbito da mesma operação.
O pagamento a que Gomes Cravinho terá, alegadamente, dado ‘luz verde’, era uma ‘moeda de troca’ pelos trabalhos realizados numa "comissão fantasma" a funcionar no seu gabinete. Capitão Ferreira terá dito a Paulo Branco que "o ministro da Defesa tinha concordado em fazer-se o contrato de assessoria e pagar-lhe 50 mil euros em retorno desses trabalhos, que foi fazendo ao longo do tempo".
Paulo Branco, ex-diretor da Gestão Financeira do Ministério da Defesa Nacional, terá declarado ao DIAP que Capitão Ferreira participou no 'Grupo Ninja' ou ‘Black Ops', assim designado pelo ministério, para realizar, clandestinamente, um estudo para a "revisão do setor empresarial do Estado da Defesa".
Em reação a uma notícia da revista Visão, Gomes Cravinho acabou por confirmar a existência daquele grupo, estabelecendo-se assim uma ligação entre o contrato de assessoria e o 'Grupo Ninja’, após as declarações de Paulo Branco, que terá servido para pagar os trabalhos gratuitos da "comissioni fantasmi", com o alegado apoio do então ministro da pasta da Defesa.
A reação de Gomes Cravinho
O atual ministro dos Negócios Estrangeiros não demorou a reagir a estas acusações, e, em comunicado enviado às redações, negou, esta sexta-feira, a "sugestão" de que estaria envolvido em alegados casos de corrupção. "Repudio de forma veemente e inequívoca a sugestão feita na manchete do jornal Expresso, baseado, aliás, em informações pouco credíveis, como fica claro pela leitura do respetivo artigo", lê-se na nota.
Para além dos esclarecimentos dados a partir da comunicação da tutela, o ministro falou ainda sobre o assunto em Malta, onde se encontra para a X Cimeira dos Países do Sul da União Europeia.
"Aproveito a oportunidade para repudiar de forma absolutamente inequívoca aquilo que é sugerido pelo Expresso", reforçou, acrescentando que mantém as "palavras" que anteriormente disse em diversos momentos públicos, como o chegou a fazer na Assembleia da República, em julho passado, quando foi ouvido na Comissão de Defesa Nacional. "As minhas palavras dessa altura mantêm-se. Sei aquilo que fiz e disse e reitero aquilo que disse em diversos momentos públicos", declarou.
Questionado sobre se tinha condições para se manter no cargo, Gomes Cravinho referiu que estas eram iguais àquelas que tinha antes da manchete do Expresso. "As condições são exatamente as mesmas", defendeu.
Mas Cravinho não é o único ‘na mira’ de Paulo Branco
Também a atual ministra da Defesa, Helena Carreiras, foi tema para o ex-responsável financeiro. Segundo o mesmo jornal, Paulo Branco declarou também que financiou "ao longo dos anos" as investigações académicas de Helena Carreiras para que a investigadora desse um "carimbo científico" aos dados recolhidos pela Direção-Geral do Ministério da Defesa. À semelhança de Cravinho, Carreiras não demorou a responder.
"Essas afirmações são falsas e inaceitáveis", notou a responsável pela pasta da Defesa, acrescentando que as mesmas "põem em causa" o seu "trabalho de investigação na relação com o Ministério da Defesa no passado".
Sem dizer se vai avançar pela via judicial, Helena Carreiras garantiu que "vai reagir fortemente contra falsidades, mentiras que coloquem em causa" o seu trabalho: "Farei o que for preciso ser feito, mas não admitirei esse tipo de insinuações e falsidades. Não permitirei que o meu trabalho seja posto em causa", rematou.
E o que dizem Costa e Marcelo?
Para além de ser acompanhado por Gomes Cravinho até Malta, o primeiro-ministro, António Costa, garantiu, esta sexta-feira, estar também a acompanhar a situação sobre a atuação do mesmo na tutela da Defesa, ao afastar qualquer ligação a alegados casos de corrupção.
"O senhor ministro dos Negócios Estrangeiros já teve oportunidade de fazer um comunicado", lembrou à chegada da cimeira, quando interrogado sobre as alegadas ligações de João Gomes Cravinho ao polémico contrato com o ex-secretário de Estado Marco Capitão Ferreira. Sobre se acompanha essa nota, o chefe de Governo garantiu: "Com certeza, se o comunicado é do ministro dos Negócios Estrangeiros, é de todo o Governo".
Já o Presidente da República recusou comentar a polémica. Marcelo Rebelo de Sousa referiu apenas que não comenta a situação "nem ministro a ministro”, remetendo-se ao silêncio.
Partidos pedem esclarecimentos
PSD, Chega e Iniciativa Liberal apelaram a esclarecimentos do primeiro-ministro e dos ministros dos Negócios Estrangeiros e Defesa sobre a operação Tempestade Perfeita, com sociais-democratas e André Ventura a admitirem a hipótese de uma comissão de inquérito.
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