O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, garantiu, esta segunda-feira, que continuará "a dialogar a vários níveis" com os profissionais de saúde, tendo marcado um encontro com a Ordem dos Médicos para quarta-feira, dia 4 de outubro. O governante ressalvou, contudo, que sem o regime de horas extraordinárias, "não há forma de o Serviço Nacional de Saúde (SNS) funcionar".
Questionado quando à oposição de mais de mil médicos ao regime de horas extraordinárias que ultrapassem as 150 previstas por ano, Pizarro foi taxativo: "Se isso não for assim, não há forma de o sistema funcionar."
O responsável foi mais longe, tendo apontando que, ainda que preveja continuar "a dialogar a vários níveis", este regime não é "de agora". "Foi sempre assim nos últimos 44 anos, que é o tempo em que existe o SNS. Só foi possível que as urgências funcionassem porque os médicos aceitaram fazer um número muito elevado de horas extraordinárias, que reconheço que são muito penosas do ponto de vista da sua vida pessoal, mas que são indispensáveis", complementou.
"O sistema não será igual em todos os locais, nem em todas as especialidades. Há especialidades sem as quais uma urgência não pode funcionar, há outras especialidades nas quais é possível imaginar que, em alguns casos, o funcionamento em rede pode manter o atendimento às pessoas sem criar dificuldades excessivas. Nalguns casos, é possível a contratação de médicos tarefeiros, noutros casos isso não é possível", esclareceu ainda.
O governante salientou, contudo, estar "preocupado com o ambiente geral", razão pela qual fará "tudo" ao seu alcance "para conseguir que haja uma reaproximação de posições entre o Ministério da Saúde e os médicos", o que espera que aconteça na quarta-feira, com a Ordem dos Médicos.
Segundo o responsável pela pasta da Saúde, o facto de se tratar de um movimento não organizado pelos sindicados "evidentemente que dificulta as negociações", ainda que tenha "absoluta confiança nas qualidades profissionais e deontológicas dos médicos portugueses".
"Devo dizer que, consciente da insatisfação da grande parte dos médicos e não ignorando uma parte significativa dessa insatisfação tem a ver com as negociações que ocorreram recentemente, também devo dizer que tenho absoluta confiança nas qualidades profissionais e deontológicas dos médicos portugueses e acredito que, no fim do dia, não estarão em causa serviços que sejam verdadeiramente indispensáveis para as pessoas", disse.
Pizarro escusou-se a "fazer na opinião pública o debate que tem de ser feito com os médicos e com os seus representantes", ao mesmo tempo que sublinhou que algumas das medidas propostas pelo Governo têm "um grande valor".
"Podem não ter sido totalmente compreendidas e temos de fazer um esforço para as divulgar, e trabalhar para aproximar posições. Não tenho dúvida nenhuma de que o SNS e o seu funcionamento são indispensáveis aos portugueses, e acho que os médicos e o Governo têm de assegurar que ele continue a funcionar na plenitude", rematou.
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