"Consegui reposicionar a Guiné-Bissau no concerto das nações, não há pequenos Estados, só pequenos países, somos todos iguais, mas para balizar isso temos de ter estabilidade, e muitas vezes em África quando queremos repor a ordem e a disciplina as pessoas tratam-nos como ditadores, quando [queremos] é disciplinar, é ditador; ora, eu não tenho nada de ditadura, sou uma pessoa afável, sou como o Presidente Marcelo, sou um homem do povo, não posso ser um ditador", disse Sissoco Embaló no final de uma reunião com o homólogo português, no Palácio de Belém, em Lisboa.
Esta semana, estudantes e trabalhadores guineenses redigiram um manifesto contra a visita do Presidente da Guiné-Bissau a Portugal, acusando o chefe de Estado e o Governo portugueses de "higienizar" a imagem de Umaro Sissoco Embaló.
Numa missiva dirigida ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro portugueses, o movimento Firkidja di Púbis, que congrega ativistas, estudantes e trabalhadores guineenses em Portugal, manifesta a sua "profunda indignação perante o apoio que o Estado português tem prestado a Umaro Sissoco Embaló".
Os subscritores definem Sissoco como um "Presidente autoritário e líder de uma ditadura à procura de renascer, após o povo soberano da Guiné-Bissau ter decretado o início do seu fim com a fulminante derrota, nas últimas eleições legislativas, dos partidos políticos que o acompanham no seu projeto de eliminação das liberdades democráticas, uma conquista inalienável do povo guineense".
"Durante três anos e meio, o nosso povo foi obrigado a viver num ambiente de perseguições políticas, através de instrumentalização de instituições de justiça, fundamentais para qualquer Estado que se quer de direito e democrático", com "raptos e espancamentos de cidadãos que ousam contrariar as sistemáticas violações dos direitos e liberdades cívicos fundamentais, nomeadamente as liberdades de expressão, de imprensa, sindical, de manifestação e de reunião", escrevem.
Nas declarações sem direito a perguntas dos jornalistas, o presidente da Guiné-Bissau disse que a sua prioridade em termos de política externa é a relação com Portugal, considerando que é crucial para a imagem externa do país, que recentemente ocupou a presidência da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), vai ocupar a liderança da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e aspira a ter também a presidência da União Africana.
"A relação forte com Portugal é muito importante para nós e para o mundo, na Europa a primeira coisa que me perguntam nas reuniões é como está a relação com Portugal", disse o governante, acrescentando que também quando foi feita a visita de Estado do Presidente português ao Senegal, quando José Mário Vaz era o chefe de Estado da Guiné-Bissau, o presidente local, Macky Sall, salientou a importância de "trabalhar para aumentar a confiança [entre Portugal e a Guiné-Bissau]".
Na intervenção, Sissoco Embaló disse ainda ter percebido que há 31 anos não tenha havido uma visita do Presidente de Portugal à Guiné-Bissau, mas acrescentou que ficou triste quando Marcelo foi ao Senegal.
"Senti-me mais triste quando o Presidente Marcelo foi ao Senegal e passou por Bissau, nós é que temos de introduzir, levar o Presidente para o Senegal, como o Presidente Marcelo nos pode levar para Espanha e outros países", apontou.
"Hoje já estão cimentadas todas as bases da estabilidade política e da coabitação, de que o Presidente Marcelo é pioneiro, ganhámos muito com essa experiência de coabitação, eu e Cabo Verde", disse o chefe de Estado da Guiné-Bissau.
Na primeira visita de Estado de um Presidente guineense a Portugal nas últimas cinco décadas, Sissoco Embaló mostrou-se dividido entre considerar-se orgulhoso ou não: "Não sei se posso dizer que tenho orgulho, sinto-me entristecido por ser o primeiro chefe de Estado em 50 anos a fazer visita de Estado a Portugal, queria que tivesse sido Cabral ou Nino, mas há sempre o primeiro, sou eu e agradeço muito", afirmou.
A visita de Estado de Sissoco Embaló prossegue com um almoço de trabalho com o primeiro-ministro, António Costa, no qual, afirmou, serão levantados os temas dos vistos e dos antigos militares portugueses na Guiné-Bissau.
[Notícia atualizada às 14h02]
Leia Também: Presidente guineense considera visita a Portugal "motivo de orgulho"