Ori Galante, um cidadão israelita com dupla nacionalidade portuguesa, escreveu uma carta à Comunidade Judaica do Porto para que interceda no pedido de nacionalidade da sua tia, de 72 anos, que foi raptada pelo grupo islamita Hamas, no ataque do passado dia 7 de outubro.
Na carta, a que o Notícias ao Minuto teve acesso, Galante conta que os terroristas tentaram queimar os tios vivos, após se terem refugiado num abrigo. O tio, de 75 anos, acabou por ser morto a tiro e a tia, que espera obter nacionalidade portuguesa há cerca de um ano, foi levada como refém.
"Vivo em Israel, num kibutz situado a 40 quilómetros da Faixa de Gaza, mas sou também cidadão português. Sou médico e trabalho na Unidade de Cuidados Intensivos do Soroka Medical Center", começou por referir, acrescentando que no dia do ataque acordou "com o som das explosões provocadas pelos 'rockets' disparados pelo Hamas sobre as cidades, vilas e aldeias e sul de Israel".
Decidiu então ligar a televisão e viu que "centenas de terroristas do Hamas tinham lançado um ataque contra cidadãos israelitas".
Mesmo "sob ataque de mísseis e explosões por todo o lado", Galante orientou uma colega de trabalho - uma enfermeira - para tratar o seu sobrinho, de 18 anos, que fora "baleado no peito por um terrorista do Hamas quando estava sentado na varanda dos avós".
"Como estávamos sob ataque terrorista, não pudemos retirá-lo e ele morreu duas horas depois nos braços dos pais", contou, na emotiva carta.
Enquanto ajudava a salvar o sobrinho da colega de trabalho, esteve em contacto com os tios, que residiam no kibutz Nir-Oz, localizado a apenas um quilómetro da Faixa de Gaza.
"O meu tio Said Moshe escreveu-me que ouviam tiros por todo o lado e que estavam escondidos numa sala segura em casa (a maioria das casas em Israel tem salas seguras devido aos ataques recorrentes de mísseis do Hamas e da jihad islâmica)", contou, acrescentando que posteriormente o tio deixou de atender e a tia, apesar de ainda ter o telemóvel ligado, também não dava notícias.
Só ao final da tarde, após um dia no hospital a tratar "centenas de soldados, cidadãos, mulheres, homens e crianças", Galante soube que "os terroristas cruéis e desumanos tinham tentando queimar vivos" os tios.
"O meu querido tio, um agricultor de 75 anos, foi encontrado morto, segurando a maçaneta da porta, numa tentativa heroica de impedir que os terroristas entrassem na sala segura. Foi baleado 12 vezes", lamentou
"A minha tia Adina Moshe tem 72 anos de idade. Era professora do jardim de infância. Adina estava escondida na sala de segurança com o marido enquanto os terroristas tentavam queimá-los vivos", disse ainda, acrescentando ainda que a tia foi depois raptada e que há um vídeo que mostra a mulher numa mota em Gaza, com dois terroristas armados.
Segundo a carta, Adina Moshe "apresentou um pedido de cidadania portuguesa" há um ano, que "foi aprovado pela comunidade judaica e o seu pedido foi aceite pelo governo português". O casal tem inclusive um filho que "vive e trabalha em Portugal há vários anos".
Acrescentando que "há esperanças de que os terroristas libertem os prisioneiros que têm cidadania europeia", o homem pediu ajuda para "apressar o processo de obtenção da nacionalidade portuguesa" para a tia.
Em comunicado, enviado às redações, a Comunidade Judaica do Porto informou que pediu ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que interceda no sentido de facultar "urgentemente" nacionalidade portuguesa a Adina Moshe, que é descendente de uma "família tradicional da comunidade sefardita da Turquia".
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