Consulta de gémeas no Sta. Maria marcada por ordem do Ministério da Saúde
O secretário de Estado da Saúde era, na altura, António Lacerda Sales, que terá negado categoricamente qualquer interferência. Por seu turno, a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, terá confessado que ouviu falar sobre o caso, mas assegurou que nem soube se as meninas tinham sido tratadas em Portugal.
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País Santa Maria
A primeira consulta das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, terá sido marcada por ordens superiores do Ministério da Saúde, liderado pela tutelar da pasta na altura, Marta Temido.
Segundo revelou o programa Exclusivo, da TVI, esta sexta-feira, a primeira consulta das meninas foi solicitada por um secretário de Estado à professora Ana Isabel Lopes, diretora do Departamento de Pediatria do Santa Maria, que nunca terá respondido aos contactos para entrevista.
A referência a um secretário de Estado surge também numa informação clínica e na justificação do medicamento de dois milhões de euros à Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), de acordo com o programa.
Ora, o secretário de Estado da Saúde era, na altura, António Lacerda Sales, que terá negado categoricamente qualquer interferência. Por seu turno, a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, terá confessado que ouviu falar sobre o caso, mas assegurou que nem soube se as meninas tinham sido tratadas em Portugal.
Ainda assim, o coordenador da Neuropediatria do Santa Maria, Levy Gomes, ressalvou que a “ministra tinha de saber”, dado o valor do medicamento. “Se não soubesse, era má ministra”, disse, revelando ainda que a secretária da governante comunicou com o seu serviço “para saber coisas”.
“Só se a secretária também fazia coisas à revelia”, complementou.
Também o antigo diretor clínico, Luís Pinheiro, terá colocado questões sobre o caso, apesar de, à data, não se recordar de receber uma carta dos neuropediatras que estavam contra a administração do medicamento às gémeas, por já estarem a ser tratadas no Brasil. Levy Gomes detalhou que o responsável “não queria que o assunto fosse ventilado”.
Contudo, no passado sábado, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) confirmou ter recebido a referida carta, tendo adiantando apenas que “o caso seguirá a sua tramitação interna", num comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
Apesar das reservas dos profissionais de saúde, a primeira consulta das meninas foi realizada mesmo sem a presença das bebés, que estavam internadas no Brasil. As menores só foram examinadas no dia 2 de janeiro de 2020.
Mesmo antes da viagem para Portugal, a família já tinha comprado um T5 em Lisboa, com equipamentos de saúde. Viriam ainda fisioterapeutas, uma terapeuta da fala e uma enfermeira, detalhou a reportagem.
Já no Brasil, o Tribunal Regional Federal decidiu que as meninas não deveriam de receber o medicamento através do Estado, uma vez que a família não estava “em condição de pobreza e as crianças não [estavam] desassistidas”.
Recorde-se que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi implicado no caso por haver “suspeitas” de que as gémeas naturalizadas tenham sido tratadas em Portugal por sua influência. O chefe de Estado já negou, por diversas vezes, qualquer envolvimento.
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