"Não me ocorre ter tido nenhuma conversa pública com Lobo Xavier", atirou esta segunda-feira António Costa, a propósito da polémica lançada pelo conselheiro de Estado, que afirmou que o primeiro-ministro revelou publicamente que tinha sido ele quem tinha pedido a Marcelo Rebelo de Sousa para falar com a procuradora-geral da República.
Costa escusou-se novamente a revelar se e quando pediu ao Presidente da República para chamar ao Palácio de Belém a procuradora-geral da República e lembrou que há "dever de confidencialidade" no Conselho de Estado.
"Lembro-me de ter falado com o doutor Lobo Xavier em privado ou em órgãos onde ambos participamos e onde o dever de confidencialidade impera sobre todos", afirmou, gracejando depois que "o que é dito e não dito no Conselho de Estado" pode ser consultado "por volta de 2053".
"Sejamos irritantemente pacientes", rematou.
Em declarações aos jornalistas numa cerimónia de homenagem ao 50º aniversário da fundação do PS, na localidade alemã de Bad Münstereifel, o secretário-geral do partido sublinhou que "a lei preocupa-se tanto com essa confidencialidade que até diz que só 30 anos depois do mandato do Presidente da República é que é possível revelar as atas". Assim, emendou então que, "portanto, nem é 2053, é mais tarde" que poderão ser reveladas as atas do Conselho de Estado de 9 de novembro, e é preciso "cumprir as regras".
"Mas não se preocupem com isso, tenham tempo, e as atas serão conhecidas", concluiu.
No passado sábado, António Costa já afirmara não se recordar de ter falado publicamente sobre quem chamou ao Palácio de Belém a procuradora-geral da República e salientou que nunca transmite por heterónimos conversas com o Presidente da República, isto depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter revelado, em Bissau, na sexta-feira, que foi o primeiro-ministro quem lhe pediu para chamar Lucília Gago ao Palácio de Belém para esta lhe dar explicações sobre o processo em que o ainda líder do executivo está envolvido.
Marcelo Rebelo de Sousa fez questão depois de assinalar que esse pedido já tinha sido mencionado publicamente pelo primeiro-ministro, mas António Costa insiste que nunca falou sobre esta questão em público.
Note-se que o conselheiro de Estado António Lobo Xavier afirmou, no programa da CNN e da TSF 'O Princípio da Incerteza', que António Costa disse, "perante outras pessoas", que foi ele quem pediu a Marcelo para chamar a Procuradoria-Geral da República (PGR) a Belém, antes de saber que estava citado no processo.
"Eu acho que aquilo que interessa é a verdade e não a formalidade. Eu nunca ouvi António Costa dizer que não era verdade que tinha pedido ao Presidente da República para chamar a PGR. Veio simplesmente dizer que não o disse em público e realmente disse-o, depende é de saber o que é em público. Não disse numa conferência de imprensa, mas disse em local onde estavam mais pessoas do que o próprio", afirmou Lobo Xavier.
Indagado se as declarações do primeiro-ministro demissionário foram num local onde estavam presentes jornalistas, este afirmou que "provavelmente não" mas reiterou que "a verdade é que Costa pediu".
"O primeiro-ministro pediu ao Presidente da República para saber se de facto ele era um obstáculo à defesa dos arguidos. O PR pediu à PGR para conversar com ele e nessa conversa verificou-se que o primeiro-ministro era também alvo de um inquérito que corria no Supremo Tribunal", afiançou por fim.
[Notícia atualizada às 20h30]
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