Autarca de Matosinhos não considera que "tenha sido feita justiça"
A presidente da Câmara de Matosinhos e da Associação Nacional de Municípios Portugueses considerou hoje que não foi feita justiça com o arquivamento do processo que a envolvia na Operação Teia, argumentando que "justiça era não ter sido constituída arguida".
© Luísa Salgueiro
País Operação Teia
"Não considero que, neste momento, tenha sido feita justiça, porque justiça era eu nunca ter sido constituída arguida num processo que envolve a forma como escolhi a minha chefe de gabinete", disse hoje Luísa Salgueiro aos jornalistas.
A autarca falava aos jornalistas no conjunto habitacional de Custóias - Fundação Salazar, em Matosinhos, um dia depois de ser conhecido o arquivamento do processo que a envolvia na Operação Teia, na qual foi constituída arguida em outubro de 2022.
"Senti muita solidariedade de todos os autarcas do país porque, naturalmente, toda a gente escolheu o seu ou a sua chefe de gabinete mediante um despacho, numa escolha pessoal", disse a também presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
A autarca não chegou a ser acusada porque o Ministério Público decidiu pelo arquivamento ainda na fase de inquérito.
Luísa Salgueiro, eleita pelo PS, foi constituída arguida a 24 de outubro de 2022 por suspeita de ter escolhido a sua anterior chefe de gabinete por nomeação, sem ter procedido à abertura de um concurso público.
Apesar de considerar que "não foi feita justiça", assinalou que o processo "terminou, quatro anos e meio depois de terem feito as buscas [na Câmara Municipal e apreendido telemóvel e copiado dados do computador] e um ano e pouco depois" da sua constituição como arguida.
"O que posso dizer é que é uma sensação de paz e serenidade que sempre tive, não tanto para mim, mas sobretudo para as pessoas que estão mais próximas de mim [...] que ficam muito afetadas", disse,
Luísa Salgueiro admitiu, contudo, que a sua imagem "fica beliscada", já que "o enxovalho e o dano reputacional é irrecuperável", reconhecendo ainda que o facto de ser presidente da ANMP lhe dá "mais visibilidade" e causa dano à associação.
"Nunca estive indiciada por corrupção, mas para as pessoas isto é uma nebulosa sempre muito parecida. Ficamos todos sob o mesmo manto, e isso é altamente perturbador para nós. Magoa", lamentou.
Questionada sobre se o Ministério Público (MP) deve explicações sobre este caso, que chegou a envolver a abertura de um processo de averiguações interno à conduta do MP (foi posteriormente arquivado), Luísa Salgueiro rejeitou, dizendo não se sentir "credora de nenhum esclarecimento especial".
A líder da ANMP disse ainda não compreender por que motivo foi constituída arguida, "por muito esforço que faça".
"Só lapsos muito grosseiros é que podem levar a que o processo tenha chegado a esta fase", considerou.
Rejeitando estabelecer paralelismos com a situação atual do país, Luísa Salgueiro disse que "num Estado democrático, a Justiça é um pilar essencial, e os cidadãos têm que ter confiança nos seus eleitos, nas pessoas que os representam, e também no poder judicial e no funcionamento da Justiça".
À data da constituição como arguida, Luísa Salgueiro disse que a sua implicação na "Operação Teia" seria "esclarecida rapidamente".
A autarquia esclareceu ainda, naquela altura, que a Polícia Judiciária (PJ) fez buscas à Câmara Municipal de Matosinhos no âmbito deste processo em maio de 2019 e que nessa altura, e apenas nessa altura, foi apreendido o telemóvel de Luísa Salgueiro e copiado o conteúdo do seu computador.
Desde então, acrescentou a Câmara de Matosinhos, "não foi realizada qualquer outra diligência e Luísa Salgueiro nunca foi ouvida no âmbito deste processo".
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