Novos casos de sem-abrigo aumentaram 56% no primeiro semestre no ano

Os beneficiários da Assistência Médica Internacional (AMI) aumentaram 33% no primeiro semestre do ano, face ao mesmo período de 2022, e os novos casos de pessoas sem-abrigo subiram 56%, avançou hoje à Lusa o presidente da organização.

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Lusa
05/12/2023 16:02 ‧ 05/12/2023 por Lusa

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"Desde 2020 que os casos vinham a agravar-se e atualmente há uma aceleração desse agravamento", disse Fernando Nobre, no dia em que a AMI celebra o 39.º aniversário.

Segundo o médico, nunca tinha sido observado um crescimento tão grande de novos casos que recorrem à AMI, sendo que a questão das pessoas em situação de sem-abrigo "ainda é pior".

O presidente da AMI contou que hoje de manhã foi a "um pequeno concerto" no Cais do Sodré, em Lisboa, para comemorar os 39 anos da AMI e que se deparou à entrada da estação com "muitos sem-abrigo a dormir em tendas ou enrolados em cobertores, o que não era habitual".

Esta situação está expressa nos dados da AMI que dão contra que, nos primeiros seis meses do ano, os Centros Porta Amiga e as duas Equipas de Rua, uma no Porto e outra em Lisboa, acompanharam 1.020 pessoas em situação de sem-abrigo, um aumento de 8% face ao período homólogo de 2022.

Destas 1.020 pessoas, 278 representam novos casos, um aumento de 56% face ao primeiro semestre de 2022.

Relativamente aos pedidos de apoio, a AMI indica que foram realizados no primeiro semestre do ano 8.661 atendimentos, acompanhamentos e encaminhamentos a 6.772 pessoas, das quais 1.154 procuraram o apoio da organização pela primeira vez, mais 33% relativamente ao período homólogo de 2022.

A alimentação e a roupa são os bens essenciais mais procurados, refere a AMI, adiantando que o serviço de distribuição de géneros alimentares apoiou 2.135 pessoas, através da entrega de 2.993 cabazes.

O serviço de refeitório apoiou 872 pessoas, servindo um total de 83.731 refeições, um aumento de 5% em relação às refeições distribuídas no período homólogo do ano passado.

O serviço de roupeiro foi requerido por 1.770 pessoas, representando um total de 867 famílias.

Fernando Nobre disse que "os casos estão a ser dramáticos" e em "curva ascendente", nada fazendo crer que a situação vai abrandar: "Infelizmente, os dados macroeconómicos estão aí".

Por outro lado, a AMI também tem-se confrontado com a maior dificuldade em angariar apoios e com o aumento dos preços dos bens alimentares, disse.

"Há meia dúzia de anos pagávamos cerca de 36.000 euros por mês para refeições que são dadas nos centros sociais da AMI. Atualmente, na última fatura do mês de novembro pagamos 48.000, um aumento substancial de 50%", salientou Fernando Nobre.

Traçando o perfil dos beneficiários, a AMI refere que a maioria encontra-se em idade ativa, entre os 16 e os 65 anos (70%), seguindo-se o grupo de menores de 16 anos (20%) e dos maiores de 66 anos (7%).

Indica ainda que 44% das pessoas maiores de 16 anos não trabalha e 43% não tem formação profissional, sendo que os seus recursos económicos provêm sobretudo de apoios sociais como o Rendimento Social de Inserção (17%), das pensões e reformas (10%) e subsídios (6%).

Segundo a organização, 10% desta população tem rendimentos de trabalho, mas são "precários e insuficientes" para fazer face às suas despesas ou da sua família.

Para Fernando Nobre, Portugal está a viver "uma situação de emergência social e emergência económica", alertando que a classe média "está a empobrecer".

"Este é um desafio que tem que nos interpelar. Não tem a ver com partidos políticos, tem a ver com sensibilidade humana", defendeu o fundador da AMI, lamentando que haja "uma disparidade cada vez mais brutal entre os muito ricos e os muito pobres".

Leia Também: Preços impedem autonomia de sem-abrigo, diz associação

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