Poucas horas depois de ter tido aquela que foi a sua última intervenção na Assembleia da República antes da dissolução, a 15 de janeiro, António Costa deu uma entrevista à TVI, onde foram abordados vários temas – do caso das gémeas à localização do novo aeroporto, passando pela atuação da Procuradoria-Geral da República, que “oficializou suspeição” a seu respeito, “que exigia demissão”.
Já ontem, no primeiro dia do Governo de gestão, confessou que estava “magoado” e “frustrado” com o a forma como a sua legislatura terminou, ainda que tenha sublinhando não ser “rancoroso”.
António Costa disse ainda que está de “consciência absolutamente” tranquila, reforçando na entrevista que aguarda “serenamente que a justiça tome uma conclusão”, não sabendo se vai ser constituído arguido ou não no caso que está a ser investigado pelo Ministério Público (MP).
As reações à entrevista e declarações de Costa não tardaram a chegar, tendo o líder do Partido Social Democrata (PSD) não demorado muito a reagir.
PSD
O principal líder da Oposição considerou que a entrevista de António Costa foi “um choro de despedida”, referindo que este apresentou uma personalidade “absolutamente desfocada daquilo que é a realidade dos portugueses".
Em declarações à CNN Portugal, Montenegro não demorou também a dar resposta a Costa, que referiu durante a entrevista que qualquer um dos principais candidatos na corrida à liderança do Partido Socialista – José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos – era “melhor que o líder da Oposição”.
"Quero dizer a António Costa, olhos nos olhos: o líder do PSD não é só mais capaz do que os dois candidatos a secretário geral do PS; o líder do PSD é mais capaz do que António Costa para ser primeiro-ministro de Portugal. Para governar e dar futuro aos jovens portugueses, para que não tenham de emigrar em busca de uma oportunidade", ripostou, acusando Costa de ser “arrogante” e apontando algum “nervosismo”.
IL
Já o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, defendeu que Costa se estava a afastar de Portugal, “um país real onde, de facto, nunca esteve”. O liberal afirmou ainda que Costa começava “também a ser o professor Cavaco Silva. "Coloca-se na mesma posição que estava a imputar a Cavaco Silva, numa tentativa de valorizar os dois candidatos do PS, que são bastante insuficientes na proposta que têm para o país", considerou Rui Rocha, em declarações à mesma emissora.
Bloco de Esquerda
Já o dirigente bloquista Fabian Figueiredo recorreu às redes sociais para apontar que Costa “reconheceu que as maiorias absolutas não ajudam”, sublinhando que foi o agora primeiro-ministro em gestão que “pediu uma maioria absoluta para garantir ‘a estabilidade durante quatro anos’”.
“Hoje [na segunda-feira] era um bom dia para o primeiro-ministro ter explicado o que correu mal na maioria absoluta. Não o fez. Em abstrato, reconhece que várias coisas correram mal na maioria absoluta. Mas, no concreto, diz que o governo fez tudo bem”, escreve na rede social X (antigo Twitter). Fabian Figueiredo apontou ainda vários, no Esquerda.net, exemplos do que falhou, na sua perspetiva, exemplificando com os milhares de alunos sem professores, as urgências fechadas ou mesmo “o valor das rendas das casas e do crédito à Habitação”, que “não para de disparar”.
O dirigente falou ainda entre as “disputas entre São Bento e Belém”, considerando que “o país está farto desta temporada desta telenovela da guerra entre palácios. O que nós precisamos é de debater o futuro do país e as alternativas políticas que se apresentam a eleições em março”.
E os comentadores?
O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes comentou a entrevista de Costa na CNN, e, questionado sobre se Costa se arriscava a ser “uma espécie de sombra” de qualquer secretário-geral – ou possível governo – socialista, o ex-governante sublinhou três aspetos “muito importantes”. “É hoje assumido pelo primeiro-ministro António Costa, em definitivo, uma rutura relacional e de percurso com o Presidente da República. Se olharmos para os últimos sete anos, vimos que partimos de um ponto de cumplicidade, de grande proximidade. A atmosfera de Paris desvaneceu-se e desvaneceu-se de forma absoluta", apontou. Campos Fernandes considerou ainda que Costa para além de Costa ter procurado na entrevista “garantir o seu legado é respeitado”, como também passar de “uma forma muito inteligente – até muito subliminar” mensagens para quem disputa o seu lugar na liderança do PS.
Também num espaço televisivo, na SIC Notícias, o tema foi analisado – nomeadamente, pela antiga líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins. A comentadora considerou que "António Costa reconheceu que não foram as cinco linhas" que o levaram a apresentar a sua demissão e à degradação da maioria absoluta, "o maior problema foi todo o processo à sua volta".
"Embora tenha falado daquelas linhas da procuradora-geral da República, reconheceu também que mesmo sem as linhas do comunicado, não teria condições para continuar porque Vítor Escária (seu chefe de gabinete) tinha milhares de euros em notas no próprio gabinete da residência oficial, que é algo inexplicável", frisou Catarina Martins.
Leia Também: "Consciência tranquila", farpas ao PSD e... polémicas. Que disse Costa?