O antigo primeiro-ministro José Sócrates negou, esta terça-feira, após a sua audição no âmbito do Caso EDP, qualquer proximidade ou amizade com o antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, afirmando que "essa mentirola tem 12 anos" e que não deixou em tribunal "pedra sobre pedra" sobre esse assunto.
"Governo não beneficiou a EDP. Esta mentira do Ministério Público é propalada há 12 anos. Há 12 anos que o Ministério Público diz que há um favorecimento ilegítimo e ilegal à EDP", afirmou, em declarações aos jornalistas no Campus da Justiça, em Lisboa.
E continuou: "E agora estão aqui num tribunal, 12 anos depois, com tudo menos EDP. Este processo transformou-se num processo sem EDP".
Segundo o antigo primeiro-ministro, "é absolutamente escandaloso que o Ministério Público considere que ao fim de 12 anos vai continuar a investigar. Acha que pode fazer este revisionismo histórico e idiota. Toda a gente sabe que o dr. Ricardo Salgado tinha amigos na Direita, não na Esquerda", frisou ainda.
"Esta ideia de que era amigo dos socialistas não tem a mínima sustentação, é falso. É uma mentira que o Ministério Público pretendeu desenvolver ao longo destes últimos 12 anos contra mim", reiterou.
Segundo José Sócrates, o Ministério Público "quis vender aos portugueses" essa ideia. "Nunca tive o telefone de Ricardo Salgado, nunca fui ao gabinete do dr. Ricardo Salgado, nunca conheci o Ricardo Salgado antes de ir para primeiro-ministro, a não ser ter estado com ele numa reunião no Ministério do Ambiente três anos antes", frisou.
Aos jornalistas reiterou o que já tinha afirmado na sessão de hoje do julgamento, insistindo que não sabia de pagamentos do BES ao arguido no caso EDP e seu ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, considerando a pergunta "insultuosa", ainda que se tenha declarado "satisfeito por saber que esses pagamentos são decorrentes de um contrato assinado antes de Manuel Pinho ir para o Governo".
"O mais importante aqui neste julgamento é o seguinte: o doutor Manuel Pinho recebeu algum dinheiro que não lhe era devido? A minha convicção é que não recebeu, mas talvez o jornalismo pudesse ter uma avaliação crítica e dizer se sim ou se não em função do que foi dito já aqui no tribunal. Tenho impressão que vocês iriam concordar comigo", disse Sócrates, que deixou críticas aos jornalistas, que acusou de "reproduzir" as teses do MP.
Questionado sobre o que pensa do facto de Manuel Pinho ter admitido ocultar património enquanto era membro do Governo, Sócrates considerou a pergunta "muito provocatória" e uma tentativa de desvio face ao que está em discussão no tribunal, que é saber se houve um favorecimento ilegal do seu executivo à EDP: "Eu vim aqui testemunhar que não, isso nunca aconteceu".
Recorde-se que os antigos primeiros-ministros José Manuel Durão Barroso, José Sócrates e Pedro Passos Coelho foram chamados a testemunhar, esta terça-feira, no âmbito do julgamento do caso EDP.
Ouvido como testemunha do julgamento do Caso EDP, o antigo administrador do BES José Maria Ricciardi revelou que Salgado lhe disse que tinha estado na origem da ida de Pinho para o executivo, assegurando que o ex-presidente do GES tinha "uma relação íntima" com Sócrates.
"Mais tarde comunicou-me pessoalmente a mim que ele, Ricardo Salgado, tinha tido interferência na ida dele [Manuel Pinho] para o Governo", disse Ricciardi, primo de Ricardo Salgado, acrescentando que "[Quem exerceu influência] foi Ricardo Salgado sobre o [então] primeiro-ministro, José Sócrates... Para ministro da Economia".
Sócrates acusou Ricciardi de mentir e "repetir a mesma patranha" de que Ricardo Salgado o influenciou a convidar Manuel Pinho para ministro da Economia.
Numa declaração à agência Lusa, Sócrates alegou que foi o atual primeiro-ministro, António Costa, quem lhe apresentou Manuel Pinho, antes de ter ganho as eleições, pelo PS, em 2005.
[Notícia atualizada às 18h46]
Leia Também: Costa ou Ministério Público? "Estamos para ver quem fez má figura"