Uma mulher que se divorciou há cerca de três anos do marido, e pai da filha, devido ao comportamento violento do mesmo, ficou chocada com as palavras de um procurador que, numa disputa pela guarda da menina, lhe disse que deveria ter mais cuidado com os homens com quem escolhia ter filhos. O caso está a ser avaliado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O caso foi contado à SIC Notícias. Joana, que vivia em Londres, no Reino Unido, quando conheceu o antigo companheiro diz que a relação, que começou à distância, tornou-se mais séria quando regressou a Portugal e foi logo morar com o homem.
"No início não achava que era violência, achava era que ele perdia a noção das coisas", afirmou, revelando que o homem dava murros nas paredes, batia com as portas e partia e estragava alguns dos seus objetos e roupas.
Foi numa viagem a Roma, em Itália, altura em que o homem estava focado em ter filhos, que Joana, contra a sua vontade, ficou grávida. Foi o nascimento desta criança, que levou Joana a ver que queria separar-se.
A mulher, hoje com 49 anos, saiu de casa com a filha e apresentou uma queixa de crime por violência doméstica contra o marido. Sem que este caso tenha ido ainda a tribunal, o Tribunal de Família e Menores da Amadora decidiu, na semana passada, pela guarda partilhada da criança, que possui, à semelhança da mãe, o estatuto de vítima.
Terá sido, precisamente, neste tribunal, que o procurador Miguel Bessa Pereira fez afirmações que chocaram Joana.
O juiz terá questionada a mulher sobre o motivo que a levou a ter filhos com um homem que já sabia que era violento e ainda a defender que um homem violento numa relação, pode ser um bom pai.
"Pode-se admitir, em tese, que um determinado homem com uma determinada mulher é o pior dos cônjuges, mas um pai formoso", afirmou, em afirmações que entretanto chegaram à Procuradoria-Geral da República.
Em declarações ao Notícias ao Minuto, este órgão confirma a recepção "da exposição sobre a matéria", a partir da qual foi "instaurada no Conselho Superior do Ministério Público uma apreciação preliminar".
"No seu âmbito, não se mostra ainda concluída a análise dos factos participados e da sua eventual relevância disciplinar", prossegue fonte da PGR, indicando que "não é possível falar, para já, de procedimento disciplinar".
O início do julgamento do crime de violência doméstica em que o pai é acusado está agendado para a próxima quarta-feira.
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