Palavras de ordem como "Abril exige casa para viver", "estamos fartos de escolher pagar a renda ou comer" ou "Governo, escuta, o Porto está na luta" foram das mais entoadas ao longo do percurso na rua de Santa Catarina, desde a praça da Batalha até à rua de Fernandes Tomás.
A adesão à manifestação de hoje foi, porém, inferior à de 30 de setembro, em que a PSP estimou terem participado cerca de oito mil pessoas.
Desta vez, a mancha de ocupação da rua de Santa Catarina ficou a cerca de metade do observado há quatro meses, constatou a Lusa no local.
"Nós vamos comemorar 50 anos do 25 de Abril e o direito à habitação não é cumprido no nosso país", disse hoje aos jornalistas Raquel Ferreira, do movimento Porta a Porta - Casa para Todos, na praça da Batalha.
Para a porta-voz do movimento, em véspera de eleições legislativas "é hora de exigir aos partidos políticos um compromisso em que querem realmente resolver o problema da habitação".
"É uma reivindicação justa e é mais do que urgente estarmos na rua hoje em dia",referiu, defendendo que "é preciso regular o valor das rendas", "descer as taxas de juro" do crédito à habitação, "acabar de vez com os vistos 'gold' e o regime de isenções fiscais para os grandes fundos imobiliários".
Para a responsável, "há medidas que podem ser tomadas e já deveriam ter sido tomadas, e efetivamente não foram, ou, se foram, são apenas pensos rápidos para remediar a situação, mas não remedeiam nada".
No Porto, concretamente, há "uma situação de carência habitacional um bocadinho mais escondida" do que em Lisboa, onde tendas montadas nas ruas são mais visíveis, havendo também "muitos despejos".
"[Existem] Muitas mulheres vítimas de violência doméstica que não têm qualquer apoio de retaguarda e que têm de se sujeitar àquilo que está no mercado e àquilo que conseguem pagar", contou Raquel Ferreira aos jornalistas.
A crise na habitação é transversal a jovens como a mais velhos, e entre os mais jovens Bárbara Rodrigues, de 21 anos, referiu à Lusa que como estudante, não só observa "exemplos de abusos de senhorio" pelo facto de serem jovens e supostamente serem "inexperientes", como há "imensos colegas que estão constantemente a mudar de casa porque o senhorio lhes aumenta a renda ou não lhes arranja a casa".
Tal tem "uma influência enorme" na saúde mental dos estudantes, aponta.
"Como estudantes e como pessoas, acho que temos que nos mobilizar por uma causa que nos afeta diariamente, seja no direito à cidade, pois por vezes temos de viver na periferia e não podemos usufruir da cidade onde trabalhamos, seja por abuso do senhorio, seja pelos despejos", defendeu.
Já Isabel Souto, de 53 anos, é professora e disse à Lusa que nas escolas se vivem "situações dramáticas" relacionadas com a crise na habitação, de "famílias com problemas, alunos que estão em situação de rutura familiar e alunos a viver em apartamentos onde estão 10, 12 ou 15 pessoas".
"Isto é desumano e ninguém dá resposta a isto. Vivemos numa sociedade em que a maioria da classe política não é sensível a esta questão", alertando ainda, em véspera de eleições, para "uma massa que se aproveita deste descontentamento".
O protesto, organizado pelo coletivo de mais de 100 associações, repete-se hoje em, pelo menos, 19 cidades: Albufeira, Aveiro, Beja, Benavente, Braga, Coimbra, Covilhã, Évora, Faro, Funchal, Lagos, Leiria, Lisboa, Portalegre, Portimão, Porto, Setúbal, Sines e Viseu.
É o terceiro pelo direito à habitação organizado pela Casa Para Viver, que quer marcar a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de 10 de março.
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