Burkina Faso, Mali e Níger "colocam-se nas mãos de mercenários russos"

O chefe da diplomacia portuguesa, João Gomes Cravinho, disse hoje que os regimes militares no Burkina Faso, Mali e Níger além de não oferecerem soluções às suas populações, "colocam-se inteiramente nas mãos de mercenários russos".

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Lusa
14/02/2024 19:25 ‧ 14/02/2024 por Lusa

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gomes Cravinho

Em entrevista à agência Lusa em Adis Abeba, à margem da 44.ª sessão ordinária do Conselho Executivo da União Africana, João Gomes Cravinho considerou que "a única perspetiva que (aqueles três países) oferecem é o de se consolidarem e perpetuarem no poder".

"Mas soluções para os problemas das populações, desde logo para o terrorismo e a insegurança, não se vê progresso nenhum", acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros, na entrevista que decorreu após manter vários contactos institucionais e bilaterais.

A questão no Sahel foi tema da reunião que Cravinho manteve hoje em Adis Abeba com o comissário da União Africana para a Paz e Segurança, Bankole Adooye e também com os homólogos da Mauritânia e da Gâmbia, dois países que fazem também parte da região do Sahel.

O Burkina Faso, Mali e Níger "correm o grande risco de se colocarem inteiramente nas mãos de mercenários russos, particularmente das empresas russas" que "na realidade não têm nenhum compromisso com a estabilidade e o desenvolvimento".

"Têm um compromisso apenas em relação aos recursos naturais, ao retorno económico que podem obter através das concessões e não oferecem nenhuma solução", adiantou.

João Gomes Cravinho lamentou ainda que os três países estejam a enfraquecer a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

"Isso é uma evidência que, apesar das sanções que foram impostas pela CEDEAO, que não surtiu efeito, a CEDEAO viu esses três países a anunciarem a sua saída, o que também é mais uma corrida para a frente num beco sem saída, porque são três países que não têm acesso ao mar", considerou.

"E, portanto, as perspetivas que esses três países têm de consolidar entre si uma comunidade alternativa, enfim, não é verosímil. Não oferece nenhuma perspetiva para a população", acrescentou Cravinho, que disse "não ser claro" como é que a CEDEAO pode encetar um processo de diálogo que acabe por levar a um regresso à participação na organização e a um regresso a uma liderança civil, que é "o que é preciso".

O chefe da diplomacia portuguesa alertou ainda para o "perigo de contágio" na região.

"Os regimes militares não estão a dar sinais de interesse em devolver o poder à sociedade civil e, portanto, estamos numa situação que põe em causa aquela região e aquela organização regional. E o poder de contágio é grande e daí ser uma fonte de grande preocupação", afirmou.

Além do encontro com Bankole Adooye, João Gomes Cravinho reuniu-se também hoje com a comissária da União Africana para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente, a angolana Josefa Sacko, com quem abordou a conferência que Portugal copatrocina quinta-feira em Adis Abeba.

O Diálogo Político de Alto Nível sobre Governança dos Oceanos e Economia Azul, a decorrer na quinta-feira, é copatrocinado por Portugal, juntamente com a Comissão da União Africana e as Comores, país insular que detém atualmente a presidência da organização.

A nível bilateral reuniu-se ainda com os homólogos do Lesoto, Etiópia e República Democrática do Congo.

João Gomes Cravinho adiantou que, no plano europeu, Portugal tem estado a trabalhar para envolver outros países dos 27 na questão da paz e segurança em África.

"Na reunião informal de (ministros dos) Negócios Estrangeiros, a 01 e 02 de fevereiro, tive ocasião de falar bastante sobre a visão de Portugal para o apoio europeu à paz e segurança no continente africano. Vamos voltar a falar do assunto daqui por dias, no dia 19 de fevereiro na nova (reunião) ministerial", acrescentou.

"Essa também é a expectativa dos nossos parceiros africanos. Que a Europa se envolva mais", concluiu.

Leia Também: Portugal vai propor à UE continuar a formar militares moçambicanos

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