"Respeito quem aprecia o cidadão jornalista, mas eu não aprecio porque é uma coisa muito perigosa. Não podemos esquecer que a tarefa do jornalista e do fotojornalista implica um código deontológico, ou seja, eu confio que aquele profissional tem regras, tem limites, tem linhas vermelhas e que a sua intermediação em me fazer chegar a realidade é peneirada coisa que, se não existir, ficamos sujeitos à avalanche das `fake news´ [notícias falsas]", afirmou Américo Aguiar na sessão de apresentação do anuário 2023 da Lusa, editado pela Alêtheia, que decorreu hoje na Câmara Municipal do Porto.
O bispo de Setúbal, que até ao início de outubro de 2023 exerceu o cargo de presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia, realçou que estando Portugal perto das eleições legislativas é importante que as pessoas tenham a noção que uma democracia forte, robusta e saudável tem que ter uma classe média robusta e forte e uma comunicação social sustentável e livre.
E numa altura em que o setor atravessa um período conturbado, ampliado pela crise no Global Media Group (GMG) que detém títulos como o JN, O Jogo e TSF, Américo Aguiar considerou que é preciso repensar o financiamento dos órgãos de comunicação social.
Sublinhando que a sustentabilidade dos meios de comunicação social está atualmente em causa, Américo Aguiar vincou que é preciso encontrar novas formas de financiamento.
E acrescentou: "O problema é que enquanto não refletirmos e enquanto não encontrarmos a solução quem sofre são sempre os mesmos, ou seja, os trabalhadores, sendo a situação em alguns órgãos de comunicação social muito dolorosa".
Apesar de considerar que esta questão é sensível porque cria a dúvida sobre se o financiamento governamental põe ou não em causa a liberdade, o cardeal lembrou que noutros países há sistemas de financiamento e cofinanciamento da comunicação social que passam pelo Estado.
O anuário, que foi apresentado em Lisboa a 08 de fevereiro e cuja capa tem uma fotografia do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, junta mais de 200 fotos dos principais acontecimentos do ano.
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