O ainda primeiro-ministro, António Costa, que esteve em Barcelona este fim-de-semana, concedeu uma entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia na qual fala sobre a (não) acusação na Operação Influencer, o papel da Justiça, a extrema-direita e também sobre uma solução de um bloco central.
Questionado sobre a Operação Influencer, o primeiro-ministro reitera que não está acusado de nada.
Revelando que a única informação que recebeu consta na nota da Procuradoria-geral da República, diz que "duas pessoas que não conheço diziam que podiam contar com um amigo para resolver um problema. Nenhuma dessas duas pessoas, que não conheço, me falou desse problema".
"Acredito que não há problema com o sistema de justiça em Portugal, o problema está em compreender os tempos da justiça. O início de uma investigação não deve ser confundido com uma condenação. Esse é um dos problemas", afirmou António Costa, questionado sobre os processos judiciais que levaram à sua demissão, e consequente convocação de eleições legislativas antecipadas, e à 'queda' do Governo Regional da Madeira.
O primeiro-ministro vincou que nunca se deve esquecer o princípio jurídico da presunção de inocência, dizendo acreditar que a justiça está a fazer o seu trabalho e que estas questões devem ser mantidas fora da campanha eleitoral.
"Podemos discutir sobre a política da justiça, mas não sobre a justiça em si. Podemos discutir sobre os meios de justiça, mas o sistema deve ser respeitado", defendeu.
António Costa considerou que a opinião pública se rege por tempos diferentes dos da justiça e reiterou que o funcionamento do sistema deve ser respeitado, para que não se volte à Idade Média, quando a justiça se fazia na praça pública.
Questionado sobre o crescimento dos populismos e da extrema direita na Europa, o primeiro-ministro admitiu que o contexto inflacionista e geopolítico cria "um território fácil" para estes fenómenos, que só apresentam "soluções fáceis à base de palavras".
No entanto, lembrou que "palavras fáceis leva-as o vento", pelo que não acredita que Portugal fique dependente da extrema-direita após as eleições de 10 de março. "Acredito que isso não vai acontecer", frisou quando questionado sobre se acredita que Portugal "não vai acabar por depender do voto da extrema-direita".
"É verdade que o populismo cresceu, mas a minha convicção é que, à medida que nos aproximamos das eleições, esse crescimento diminuirá", realçou o primeiro-ministro.
Sobre os 50 anos do 25 de Abril, quando questionado, nega haver uma "nostalgia" do salazarismo em Portugal, que nem sequer é expressada pela extrema-direita: "não se atrevem a expressar uma nostalgia da ditadura".
Questionado sobre a possibilidade de um acordo entre PS e PSD, Costa lembrou que isso só aconteceu uma vez, em 1983, mas não acredita que agora seja essa a opção.
Relativamente a políticas europeias, questionado sobre a possibilidade da introdução de exigências de maiores gastos militares no consenso democrático europeu, o primeiro-ministro defendeu uma Europa forte e isso inclui a defesa.
"Todos nós estamos agora preocupados com o risco do regresso do candidato de Putin à presidência dos Estados Unidos. Isso seria trágico para o mundo. Mas isso mostra que temos de ter uma Europa forte", apontou.
Já quanto à disponibilidade para desempenhar um cargo europeu nos próximos tempos, António Costa disse que não é tempo de especular sobre o futuro.
"A minha vida não depende só de mim. [...] O mais importante é que em junho [nas eleições europeias] haja uma maioria clara de apoio ao projeto europeu. Estamos perante desafios muito grandes", rematou.
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