25 Abril? "Não há riscos particulares para a democracia em Portugal"
O sociólogo e historiador português António Costa Pinto disse à Lusa que, 50 anos depois do 25 de Abril, a democracia em Portugal consolidou-se, mas ainda enfrenta desafios, que passaram da esquerda radical para a direita radical.
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País 25 Abril/50 anos
"50 anos depois do 25 de Abril, Portugal é uma democracia consolidada, é uma democracia integrada na União Europeia, num clube de democracias. Não há riscos particulares para a democracia em Portugal", disse.
António Costa Pinto falava à agência Lusa, em Caracas, no âmbito de um ciclo de conferências sobre a Revolução dos Cravos que marcou o início das celebrações locais para assinalar os 50 anos do 25 de Abril de 1974, tendo sido o conferencista convidado.
"Não há riscos particulares para a democracia em Portugal. As próprias mudanças no sistema partidário e nas atitudes eleitorais dos portugueses expressam dinâmicas mais gerais que atravessam, digamos, a maior parte das democracias da União Europeia", disse o também professor da Universidade de Lisboa.
António Costa Pinto sublinhou ainda que "não há nenhum perigo em particular para a democracia".
"Os partidos vão mudando, os desafios no passado estiveram à esquerda e até no passado estiveram na esquerda radical. Hoje estão mais na direita radical enquanto desafio para a democracia, mas não é de crer que haja qualquer problema grave para a democracia portuguesa", disse.
Sobre o 25 de Abril de 1974, explicou que "foi o movimento pioneiro de democratização, da chamada 'terceira vaga de democratizações'".
"O que começou em Portugal também se passou em Espanha, também se passou na Grécia e mais tarde na América Latina, em África. Portanto, Portugal abriu uma vaga de mudanças de regime político, neste caso, uma vaga de democratizações. Estamos a falar há 50 anos", disse.
Segundo António Costa Pinto, "o 25 de Abril significou para o mundo algo que era relativamente já raro, que é uma revolução democrática". Mas "não foi apenas uma democratização. Isso muitos países tiveram", assinalou.
"Foi uma revolução democrática. Significou a rejeição da ditadura com uma forma muito afirmada (...) eu creio que essa é, sobretudo, a lição para o mundo que, como é evidente, sofre hoje novas clivagens, novos regimes autoritários. O grande desafio, que muitas vezes é para o mundo, o radicalismo populista de direita para muitas democracias, o 25 de Abril vai ficar como uma lição de uma revolução democrática", disse.
Para os luso-venezuelanos, explicou, tem uma importância dupla: "por um lado, deram um clima de liberdade de mobilidade, as suas origens estão hoje num país bem mais desenvolvido e, por outro lado também a nacionalidade portuguesa permite-lhes (...) uma muito maior mobilidade, uma muito maior liberdade que alguma vez o permitiu no passado".
Explicou ainda que "as comunidades de origem portuguesa e portuguesa pelo mundo têm memórias diferentes do 25 de Abril".
"Uma coisa é a memória, por exemplo, de uma parte das comunidades portuguesas do Rio de Janeiro, ou de França, ou de outros países, tendo em vista que a emigração portuguesa assume um caráter muito global", detalhou.
"Mas (...) para a comunidade de luso-venezuelana o 25 de Abril deu-lhes e abriu-lhes sobretudo uma perspetiva de, não só poderem contar com Portugal, coisa que nem sempre aconteceu no passado, como também terem aquilo que se podia chamar um muito maior orgulho nas suas origens, porque as suas origens são hoje, estão hoje, representadas num país que é um país democrático, livre, desenvolvido", concluiu.
As conferências sobre o 50.º aniversário da Revolução do Cravos tiveram lugar em Maracay, na Universidade Pedagógica Experimental Libertador e em Caracas, na Universidade Central da Venezuela e na Universidade Católica Andrés Bello, e marcaram, localmente, o início de um ano de comemorações do 25 de abril.
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