Um ano depois de três antigas investigadoras disponibilizarem um artigo científico no qual denunciavam alegadas situações de assédio sexual, o caso, que envolve a Universidade de Coimbra, dá alguns passos em termos de clarificação.
Em causa está o Centro de Estudos Sociais (CES), ligado a esta universidade, que em abril do ano passado, se viu nos holofotes depois de uma das pessoas implicadas poder ser Boaventura Sousa Santos, o professor catedrático e sociólogo que é diretor emérito deste centro.
Mas que caso é este?
As três investigadoras (da Bélgica, Portugal e EUA) não identificaram os visados pelos nomes, mas as figuras centrais foram identificadas com as alcunhas de 'Professor Estrela' e o 'Aprendiz', cujos currículos e descrições correspondiam a Boaventura Sousa Santos e a um outro professor.
Após a polémica, o catedrático negou as acusações de que era alvo, referindo que foi alvo de uma "difamação anónima, vergonhosa e vil", aproveitando por acusar uma das investigadores de "comportamento incorreto e indisciplinado". Na carta aberta que publicou, Boaventura detalhou e explorou mais as acusações em causa e já na altura indicou que ia processar as investigadoras.
Um ano depois...
O CES analisou as denúncias de assédio feitas na instituição, e, na quarta-feira, divulgou o relatório final, que indica que "a documentação apresentada e as audições realizadas, tanto de pessoas denunciantes como de pessoas denunciadas, não permitiram esclarecer indubitavelmente a existência ou não da ocorrência de todas as situações comunicadas".
Ainda assim, "a informação reunida, bem como das versões entre as pessoas denunciantes e pessoas denunciadas que foram compatíveis entre si, indiciam padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES".
O documento está disponível no website do CES e nele lê-se: "Verificou-se que as versões apresentadas por várias pessoas denunciantes e por várias pessoas denunciadas foram em muitas situações incompatíveis entre si, tornando-se, nessas situações, impraticável aferir evidências das mesmas".
As reações (incluindo de Boaventura)
Após as conclusões serem conhecidas, o investigador Boaventura Sousa Santos garantiu nunca ter sido confrontado com acusações concretas de abuso de poder ou assédio, e sublinhou que o documento conhecido ontem não lhe faz acusações diretas.
"Pessoalmente, estou mais tranquilo hoje do que estava há um ano. Nunca esperei uma absolvição das suspeitas que sobre mim pairaram porque, efetivamente, nunca fui confrontado com acusações concretas de abuso de poder ou de assédio - como, aliás, o próprio documento agora atesta", afirmou, em comunicado.
Ao final da tarde, o diretor do CES, Tiago Santos Pereira, considerou que a conclusão do relatório é "muito preocupante", o que levou a que tivessem publicado na página de internet da instituição uma carta aberta, na qual pediram desculpas às vítimas das práticas de assédio e abuso moral e sexual e de abuso de poder cometidas por investigadores da instituição.
"A Direção do CES declara o seu repúdio e indignação pelas práticas de assédio e abuso moral e sexual e de abuso de poder cometidas por investigadores/as do CES, conforme denunciado perante a CI", lê-se.
De acordo com o relatório divulgado, à comissão independente foram denunciadas 14 pessoas, por 32 denunciantes, num total de 78 denúncias.
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