Foi a derradeira 'hora de despedida' de António Costa como primeiro-ministro português em Bruxelas. Estava no cargo desde novembro de 2015 era considerado um dos mais experientes entre os seus homólogos da União Europeia (UE). E, desde então, é o representante de Portugal no Conselho Europeu, onde esta sexta-feira esteve presente para a sua última reunião.
Nesse encontro, António Costa falou sobre o papel na Europa nos grandes desafios dos últimos anos e as previsões de crescimento económico de Portugal e deixou umas 'farpas' ao governo do Partido Social Democrata (PSD) de Passos Coelho e à atuação da Procuradoria-Geral da República (PGR).
"A Europa podia ter feito mais"
António Costa considerou que a UE "podia ter feito mais" e disse esperar que no futuro a sua voz continue "a ser ouvida e a ser clara".
No entanto, salientou que "conseguimos gerir a crise migratória, em 2015, a covid-19, enfrentar a guerra, a crise energética e, ao mesmo tempo, relançámo-nos em duas transições que são um enormes desafios para as nossas sociedades".
Ainda assim, a UE ainda vai deparar-se com "desafios constantes e permanentes", decorrentes, por exemplo, das alterações climáticas, "na agricultura, na indústria automóvel, em vários setores de atividade", e reconheceu que a União Europeia tem de encontrar "mecanismos para poder responder".
Economia? "Boas notícias" para o futuro do país
O primeiro-ministro cessante, António Costa, considerou hoje que as previsões de crescimento da economia portuguesa, divulgadas pelo Banco de Portugal, são "boas notícias" e defendeu que os portugueses podem ter expectativas positivas sobre o futuro.
O Banco de Portugal reviu hoje em alta a previsão de crescimento das exportações este ano, para 3,5%, apesar da desaceleração face ao ano anterior, com o turismo a manter um dinamismo superior.
Dever é transmitir confiança e "outros não o fizeram"
António Costa também defendeu que é o "dever de qualquer primeiro-ministro" transmitir confiança no país em contexto internacional e que nunca faria "o contrário", recordando que, no passado, "outros não o fizeram" quando assumiu funções.
"Nunca me passaria [pela cabeça] fazer o contrário e em particulares condições e com facilidade de o poder fazer [transmitir confiança em Portugal], sempre o faria, mas faço-o também não esquecendo que outros não o fizeram quando assumi funções e sei bem o que é que isso teve de custo para o país, teve custo para a ação governativa", completou, atirando 'farpas' ao seu antecessor Pedro Passos Coelho.
PGR? "Quando a Justiça pretender falar comigo, sabe onde estou"
Costa foi questionado sobre as últimas declarações de procuradora-geral da República, Lucília Gago, que afirmou que o caso de Costa pode descer do Supremo Tribunal de Justiça para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), e deixou claro que não fala com a Justiça através da comunicação social.
"Já tive ocasião de explicitar que quando a Justiça pretender falar comigo, sabe onde eu estou, sabe o meu número de telefone. Não falo com a justiça através da Comunicação Social", atirou.
Recorde-se que o socialista abandona o cargo depois de ter visto o seu nome envolvido no âmbito da 'Operação Influencer'.
A Operação Influencer levou à detenção de Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa; Diogo Lacerda Machado, advogado, consultor e amigo do primeiro-ministro cessante; dos administradores da empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves; e do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, que o juiz colocou em liberdade após interrogatório judicial.
Além destes, há outros quatro arguidos no processo, incluindo o agora ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado, antigo secretário de Estado da Justiça e ex-porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.
O processo está relacionado com a produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e com o projeto de construção de um centro de dados (Data Center) na zona industrial e logística da Start Campus.
O primeiro-ministro, António Costa surgiu associado a este caso e foi alvo da abertura de um inquérito no MP junto do Supremo Tribunal de Justiça, situação que o levou a pedir a demissão e o Presidente da República marcou eleições para 10 de março.
Charles Michel despede-se: "Obrigado, caro António, e felicidades"
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, deixou um sentido agradecimento a Costa - e até escreveu umas palavras em português.
"Caro António Costa, sentiremos falta do teu bom humor e da tua capacidade de resolução de problemas, [que foram] muito úteis durante as 74 cimeiras em que participaste. Obrigado caro António e felicidades", escreveu Charles Michel, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).
Dear @antoniocostapm we will miss your good humour and problem-solving skills — very handy during the 74 summits you participated in. #EUCO
— Charles Michel (@CharlesMichel) March 21, 2024
Obrigado caro António, e felicidades! pic.twitter.com/AVDXcFvqkU
Michel deixou, entretanto, rasgados elogios ao nosso primeiro-ministro demissionário, salientando que é "muito pragmático, concreto e funcional" e "alguém que pode ser muito útil na dinâmica de equipa, com várias personalidades e vários contextos", salientando que Costa "foi sempre útil para tentar encontrar soluções comuns",
"Conheço António Costa há mais de oito anos. Temos experiências comuns nestas reuniões do Conselho Europeu [...] e ele é alguém extremamente sincero em termos das suas convicções europeias", enfatizou Charles Michel.
Leia Também: Costa em Paris na última visita ao estrangeiro como primeiro-ministro