Lacerda Sales critica IGAS por dar mais valor à palavra "da secretária"

"Qual o motivo para a inspeção-geral dar mais credibilidade ao depoimento da secretária pessoal que ao do secretário de Estado da Saúde", questionou Lacerda Sales no contraditório ao relatório do IGAS.

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© Carlos Pimentel/Global Imagens

Lusa
04/04/2024 15:45 ‧ 04/04/2024 por Lusa

País

Caso das Gémeas

O ex-secretário de Estado António Lacerda Sales critica a inspeção-geral da Saúde por ter dado menos valor à sua palavra do que à da sua secretária pessoal, que disse que contactou o Hospital de Santa Maria para agendar a consulta das gémeas a pedido de Lacerda Sales.

"Qual o motivo para a inspeção-geral dar mais credibilidade ao depoimento da secretária pessoal que ao do secretário de Estado da Saúde", questiona António Lacerda Sales, no contraditório que é parte integrante do relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) sobre o caso das gémeas tratadas em Santa Maria.

Na inspeção ao caso, a IGAS concluiu pela ilegalidade do acesso à consulta de neuropediatria das gémeas que receberam em Santa Maria um medicamento de milhões de euros.

"Não foram cumpridos os requisitos de legalidade no acesso das duas crianças à consulta de neuropediatria" uma vez que a marcação - feita através da Secretaria de Estado da Saúde - não cumpriu a portaria que regula o acesso dos utentes ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), refere a IGAS.

Lacerda Sales contesta diversos pontos do documento e diz que, ao contrário do afirmado pela sua secretária pessoal, nunca solicitou a marcação de qualquer consulta.

Lembra que a sua secretária pessoal tinha exercido funções no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) - que pertencia ao Hospital de Santa Maria - e, por isso, poderia já ter conhecimento do caso das gémeas, cujos pedidos de ajuda tinham começado em setembro de 2019.

Gémeas? IGAS conclui que

Gémeas? IGAS conclui que "não foram cumpridos requisitos de legalidade"

A "marcação de consulta" das duas crianças no Hospital de Santa Maria "não cumpriu o disposto na portaria que regula o Sistema Integrado de Gestão do Acesso dos utentes ao Serviço Nacional de Saúde".

Daniela Carrilho | 11:17 - 04/04/2024

No relatório, a IGAS refere que o ex-secretário de Estado teve conhecimento do caso das duas crianças gémeas após reunião realizada, a 7 de novembro de 2019, com Nuno Rebelo de Sousa (filho do Presidente da República), na qual lhe foi solicitada a colaboração para a obtenção de tratamento com o medicamento Zolgensma.

No documento, a que a Lusa teve acesso, a IGAS escreve que, em data por apurar, "mas situada entre 07 e 20 de novembro de 2019", o ex-secretário de estado solicitou à sua então secretária pessoal que contactasse telefonicamente Nuno Rebelo de Sousa, que pretendia que fosse marcada uma consulta para duas crianças no Hospital de Santa Maria, tendo-lhe fornecido o número telefónico para o efeito, informação que Sales nega.

Na sequência deste contacto - diz a IGAS - a secretária pessoal "obteve informação, que remeteu para o CHULN, E.P.E. de acordo com as orientações do SES [secretário de Estado da Saúde], quanto à identidade das crianças, data de nascimento, diagnóstico e datas em que os pais poderiam estar presentes no referido hospital".

"Apesar de o então SES negar o seu envolvimento na obtenção de informação sobre as gémeas junto do Dr. Nuno Rebelo de Sousa e posterior encaminhamento para o CHULN, E.P.E., para marcação de consulta, não se descortina como a sua secretária pessoal, atento o seu grau de autonomia, poderia ter tido conhecimento do caso das duas crianças gémeas e da sua informação pessoal, e comunicado com o CHULN, E.P.E., que não fosse através do modo e contactos referidos", acrescenta a IGAS.

Sobre este contacto da sua secretária pessoal com o Santa Maria, Sales sublinha o facto de não constar 'em CC' (com conhecimento) no email e questiona: "Porque é que não existe qualquer indicação no mail de que o mesmo foi enviado a pedido do SES? Não seria prudente, considerando que a então secretária estava ali, no exercício das duas funções, há pouco mais de 15 dias?"

Sales chega mesmo a abordar a forma como a secretária pessoal se dirige à diretora do departamento de pediatria ("Cara Prof Isabel Lopes" e "Mais uma vez muito agradeço a sua preciosa ajuda") questionando: "Qual o grau de intimidade entre as intervenientes? Já se conheciam anteriormente?".

No final do contraditório, Sales pergunta ainda: "Porque é que o projeto de relatório, considerando o vários contactos prévios ao email do dia 20 de novembro de 2019,não equaciona outra hipótese que fosse determinativa para o agendamento das consultas? Pela Casa Civil ou outros colegas ou outras instituições de saúde?".

Leia Também: Gémeas? Santa Maria pede "respeito irrepreensível" no acesso ao SNS

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