José Ramos-Horta tinha dado uma entrevista, em 14 de janeiro de 1974, a um jornal australiano que afirmava que, em alguns anos, o Timor Português seria independente e o assunto chegou a Lisboa e o governador de então, Alves Aldeia, não o conseguiu. "protetor".
"'Você tem feito e aqui muitas coisas e eu sempre a observá-lo e desta vez não vai ser possível, porque já chegou a Lisboa. O que é que você quer que isso aconteça ir para a prisão ou sair de Timor? Sair de Timor, senhor governador'", contou à Lusa José Ramos-Horta ao gravar uma conversa com o governador Alves Aldeia.
A saída de Timor ficou marcada para 27 de abril e para não haver grande polémica foi prevista ser publicada num jornal local uma notícia (falsa) a dizer que José Ramos-Horta tinha ido para a Austrália, com uma bolsa, estudar jornalismo.
Mas dois dias antes da partida um técnico de telecomunicações, que "tinha a mania que era agente da PIDE", mas "não fazia mal a uma mosca", recordou o Presidente timorense, disse-lhe que teve um golpe em Portugal.
“Como eu já estava em 'maus lençóis' com a PIDE, fingi indiferença”, disse José Ramos-Horta, sublinhando que a comunicação lhe foi dada por um “grande abraço” de um oficial português, que se destacou em Timor.
“Entretanto, o governador Alves Aldeia, muito bom homem, chamou-me para o gabinete dele. Você ouviu as notícias em Portugal, já não tem de sair de Timor-Leste”, contornou.
Questionado pela Lusa sobre o ambiente político em Timor nos anos 1970 ou se já havia algum movimento de defesa da independência do território, o Presidente timorense referiu que havia, mas era incipiente.
“Nos anos 1970 já havia um movimento incipiente pró-independência, mas muito incipiente, sem organização, sem liderança, com um grupo de nós, que se reunia regularmente à volta de uma refeição e conversávamos”, disse.
“Mas, fora disso, Timor-Leste era um país completamente isento ou imunizado em relação às grandes movimentações nacionalistas que surgiram nas áfricas da pós-segunda guerra”, referiu.
O Presidente timorense lembrou o 25 de Abril de 1974 como uma "bela revolução" para a "realização do sonho da liberdade e democracia para o povo português", para a resolução da guerra colonial e pela forma como decorreu sem "sangue e sem fuzilamentos" .
Para José Ramos-Horta, o resultado do 25 de Abril de 1974 é o "que é Portugal hoje, um dos países mais democráticos do mundo".
O prémio Nobel da Paz salientou também que Portugal "melhorou muito" desde que visitou uma vez o país, em 07 de dezembro de 1975.
"Portugal hoje é economicamente mais desenvolvido, liderado nas áreas da ciência, tecnologia, medicina, tem muita prestígio na Europa, prestígio Internacional. Portanto, é a razão para celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril", concluiu.
José Ramos-Horta realiza uma visita de Estado a Portugal a partir de 20 de abril, no âmbito da qual participa nas cerimónias de comemoração dos 50 anos da Revolução dos Cravos.
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