Famílias enchem o Largo do Carmo para reafirmar legado da liberdade

Centenas de famílias passaram hoje de tarde pelo Largo do Carmo para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, posar junto dos veículos militares do tempo da Revolução e reafirmar o legado da liberdade e da democracia.

Notícia

© Horacio Villalobos#Corbis/Getty Images

Lusa
25/04/2024 18:56 ‧ 25/04/2024 por Lusa

País

25 Abril

Tal como há 50 anos, os blindados chegaram ao Quartel do Carmo, no centro de Lisboa, cheios de pessoas em cima, após completarem o trajeto que os trouxe desde o Terreiro do Paço. Já no local onde se consumou a queda do anterior regime e a vitória dos militares, o povo voltou a sair à rua, de cravos vermelhos nas mãos e no peito.

"É um dia de liberdade, um dia em que temos de dar valor ao que temos hoje. As gerações mais novas não passaram por aquilo que os meus pais passaram e me transmitiram, e o que eu lhes quero passar é que é um dia que tem de ser festejado, um dia de liberdade e de união. Juntamo-nos sempre aqui no Largo do Carmo para comemorar", conta à Lusa Nuno Silveira, acompanhado pela filha a tirar fotos no interior de um camião de transporte militar.

Com 56 anos, guarda desse 25 de abril de 1974 a memória de não ter tido aulas na escola e da surpresa que representou para a família, quando a sua mãe foi chamar o seu tio, que era do exército e ainda estava a dormir quando se dava a revolução. O dia de há 50 anos faz parte do passado, mas também do futuro e Nuno Silveira realça a necessidade de preservar o legado de liberdade e democracia.

"Gostaria de dizer que está seguro, mas neste momento já não tenho certezas e por não ter certezas é que incuto este espírito de liberdade. Temos de manter este espírito de liberdade e democracia, não podemos perder. Através do voto, não os obrigo, mas faço ver a quem pretende votar que nem todos tiveram liberdade para isso", sublinha.

Noutro blindado, Sílvia Ribeiro vai posando para a fotografia do marido ao lado da cadela Mel, imitando tantas outras pessoas ao longo do dia. É um dia muito importante para Portugal e para todos nós. É a liberdade de podermos dizer e fazer o que entendemos", refere.

Aos 43 anos, Sílvia Ribeiro nasceu sete anos depois da Revolução dos Cravos, mas explica que o marido já era nascido e que as histórias das famílias se cruzam com a do 25 de Abril, com um pai que combateu no Ultramar e uma filha prestes a completar 18 anos e a aprender ciência política, depois de crescer a ouvir em casa "desde pequenina" sobre a importância desta data.

Já Graça Vaz, que veio na companhia do marido, da filha e dos netos, lembra-se ainda bem desse 25 de abril de 1974, quando se preparava para mais um dia de trabalho no bar Angola (então na zona dos Anjos) e tinha 25 anos, uma bebé que ainda não tinha três meses de vida e um marido embarcado nos Açores.

"Saí para apanhar o metro em Alvalade, cheguei lá e estava fechado. Estava lá um senhor e disse, 'Para onde é que a senhora vai?', e eu respondi 'Vou trabalhar'. O senhor disse assim, 'Vá mas é para casa rapidamente, porque está a haver um golpe de Estado', e eu disse, 'O que é um golpe de Estado?'... Então, toca a andar para casa. Estava sozinha e cheia de medo", relembra.

Assume que esteve para não ir às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e que só saiu por insistência da filha. Agora, não se arrepende de ter mudado os planos e destaca a alegria das pessoas na evocação do "dia inicial inteiro e limpo", como descrito pela poeta Sophia de Mello Breyner: "Deve manter-se vivo e continuar, devemos vivê-lo sempre com alegria, como estamos a viver agora".

Se as comemorações são uma revisitação daquele dia do passado, o futuro marcou presença através das muitas crianças e dos muitos jovens que quiseram subir às chaimites para tirar fotografias e aprender um pouco mais sobre o 25 de Abril.

Entre esses jovens está Daniel Ferreira, de 13 anos, que realça o cheiro a gasolina do veículo e a mudança que se operou em Portugal há 50 anos. "[O 25 de Abril] faz 50 anos e é uma data importante para o início da liberdade. Deixámos de ter ditadura e passámos a ter democracia. As pessoas podem votar, têm mais direitos e podem ter a sua opinião. É uma data importante", resume.

A revolução ocorrida há 50 anos teve um grande eco a nível internacional e também hoje não passou ao lado dos muitos estrangeiros que passeiam pelo centro histórico de Lisboa. E se uns estão apenas de visita, outros, como Stepan Franchak, fez de Portugal o seu país para viver e apreendeu já o significado da data.

"Significou a saída da ditadura, o fim do regime de Salazar e o início da democracia em Portugal", afirma o cidadão natural da Ucrânia, há 20 anos a viver cá e que, num português sem mácula, deixa um recado sobre o 25 de Abril: "A liberdade tem de ser merecida. O povo tem de fazer essa gestão e ver se tudo está de acordo com a democracia e a liberdade".

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