O projeto Rua 'Em Família para Crescer" existe desde 1989 para diminuir o número de crianças e jovens em risco ou em situações de perigo, tendo desde então acompanhado 39.808 crianças e jovens, dos quais 1.659 em 2023.
Divide-se entre recuperar e prevenir e no primeiro inclui intervenção em contexto de rua e intervenção na educação e formação, enquanto na prevenção a atuação é feita em contexto escolar e familiar.
Em entrevista à agência Lusa, Matilde Sirgado defendeu que se pode "fazer uma conta rapidamente" para perceber que "o Estado está a poupar imenso dinheiro" com o trabalho do IAC, como de outras instituições que apostam no treino de competências pessoais e sociais, "prevenindo situações muito mais graves".
"Se houver vontade política, é prioritário e urgente rever o tipo de apoio que dão a estas instituições e que o IAC está a reivindicar junto dos diferentes governos", apontou a responsável.
Sublinhou que uma "boa base" da sustentabilidade do IAC vem de fundos públicos, mas salientou que o que o organismo faz é "intervir em áreas da competência do Estado", pelo reconhecimento do trabalho feito numa área específica como a intervenção junto de crianças e jovens.
"Este protocolo há muitos anos que não é revisto, no sentido de acompanhar a evolução das necessidades da sociedade", salientou Matilde Sirgado.
Deu como exemplo a evolução do Projeto Rua, que se foi sempre adaptando, mesmo na altura da pandemia, tendo sido dos "poucos projetos e das poucas intervenções que não ficou confinada nem fechada".
"Teve que ir para a rua para trabalhar, salvaguardar e minorar os problemas de um fosso que se agravou entre esta população e o resto da sociedade", apontou, salientando tratar-se de crianças e jovens em que muitos "não tinham condições para entrar numa escola virtual", nem tinham pais que os pudessem acompanhar.
"Não tinham sequer materiais ou computadores e nós tivemos de ir para o terreno e abrir o nosso espaço para as crianças para que, em vez de estarem em casa, pudessem ter aulas", contou a responsável.
"Tivemos de ir às escolas e, conjuntamente com as juntas de freguesia, buscar comida com a nossa carrinha, porque era a única refeição que tinham", acrescentou.
Para Matilde Sirgado, estes "são pequenos exemplos" que mostram que "investir nestas instituições é poupar a sociedade".
"Poupamos porque para muitos destes jovens, infelizmente, não existem varinhas mágicas para intervir com receitas previamente planeadas", defendeu.
Lembrou que em causa estão pessoas com vulnerabilidades e que estas medidas têm tido "grande sucesso", pelo que deveriam ser replicadas, reconhecidas e apoiadas.
De acordo com a responsável, o apoio financeiro ao IAC "está em fase de negociação há vários anos" e foi feito "um pequeno reajuste" durante o governo anterior, mas não chegou a ser uma revisão das verbas pagas.
"Precisamos mesmo de reolhar, à luz do hoje porque o Instituto foi crescendo para se adaptar e os problemas da sociedade também se foram agravando", defendeu, alertando para a multiplicação da intervenção.
Matilde Sirgado apontou ainda que o IAC é uma instituição reconhecida e que esse reconhecimento servirá para "fazer chegar a voz das crianças e as preocupações efetivas do terreno a quem decide".
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