"Situação urgentíssima". Marcelo promulga novas regras para as migrações
Nota realça a "situação urgentíssima de regularização" de milhares de processos pendentes de "autorização de residência".
José Miguel Pires com Lusa | 19:30 - 03/06/2024© Getty Images
País Migrações
A semana ainda vai no início, mas o anúncio de dezenas de medidas no plano das migrações já prometeu marcar os próximos dias. Na segunda-feira, o Governo anunciou 41 medidas – que vão desde o reforço da Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) à extinção do procedimento de Manifestação de Interesse –, com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, a sublinhar que a política de migrações proposta não é "nem de portas fechadas, nem de portas escancaradas".
"Bem sei que soa a 'soundbite', mas queria que compreendessem que, apesar de soar assim, este princípio encerra em si mesma uma política que tem objetivos e uma filosofia concretos. É preciso regular a migração para dar dignidade às pessoas", explicou.
Para o líder do Governo são precisos mais "recursos humanos" em Portugal, desde a área mais “simples à função mais qualificada”.
Que medidas anunciou o Governo?
"Situação urgentíssima"
Se durante o anúncio Montenegro considerou o tema das migrações “incontornável”, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa não demorou a ir ao seu encontro, considerando que existe por cá uma "situação urgentíssima de regularização" de milhares de processos pendentes de "autorização de residência".
Cerca de três horas depois do anúncio de Montenegro, Marcelo promulgou o diploma do Governo em causa, e numa nota publicada no site da Presidência da República, considerou que o diploma em causa respeita as situações existentes até ao momento, mas também "evita sobrecarregar os processos de regularização em curso com novas manifestações de interesse, admitidas na legislação anterior".
E para além das medidas, que mais diz o Governo?
Já à noite, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, deu uma entrevista à SIC Notícias, onde o tema das migrações esteve em cima da mesa.
O governante recusou “fixar um prazo” para ter a AIMA a funcionar normalmente, dado que não quer "induzir mais frustração de expectativas nas pessoas", mas garantiu que iria ser feita uma “avaliação permanente”.
Leitão Amaro afirmou, no entanto, que é expectável que, "numa matéria de meses", os centros operacionais anunciados pelo Governo para o tratamento dos processos em atraso na AIMA - ao todo, cerca de 400 mil - resolvam "as pendências todas".
O ministro considerou também que os atrasos registados na AIMA eram uma “indignidade” e admitiu pedir "o apoio de pessoas que estavam no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras [organização já extinta] e transitaram para outras instituições".
Leitão Amaro considerou, no entanto, que a responsabilidade da situação não pertencia àqueles que estão na agência, atirando farpas ao anterior Executivo. O ministro afirmou que o atual estado da agência e da imigração em Portugal é "uma herança pesadíssima que os trabalhadores da AIMA têm enfrentado e que agora temos que resolver".
“A responsabilidade da situação a que chegamos hoje, da causa, não é a direção da AIMA nem o seu presidente, é a soma de erros e incapacidade na extinção do SEF e dotação de meios da AIMA do Governo anterior”, afirmou.
E os partidos?
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, acusou o Governo PSD/CDS-PP de incentivar a imigração indocumentada no país com o novo plano para as migrações, criticando a extinção do mecanismo de manifestação de interesse, mecanismo que reconhece que tinha "problemas na aplicação prática", mas que permite que a um imigrante pedir para obter um visto de residência em Portugal. Na opinião de Mariana Mortágua, esta extinção abre "um vazio legal".
Já o líder do Chega, André Ventura, considerou que o plano revelado pelo Governo "acaba por se revelar frouxo, mal formado, pouco eficaz e pouco conseguido". "Se este plano se mantiver com este nível de inconsequência e ineficácia, não terá nenhuma hipótese de passar na Assembleia da República", indicou.
Já a Iniciativa Liberal espera que o Partido Social Democrata leve o Plano de Ação para as Migrações apresentado até ao fim e "não se fique pelas meias-tintas". "Esperamos que [o plano] não fique apenas pelas meias-tintas como tem sido apanágio do PSD", afirmou o cabeça de lista ao Parlamento Europeu, João Cotrim de Figueiredo.
A líder da Nova Direita, Ossanda Líber, manifestou-se agradada com o Plano de Ação para as Migrações do Governo, porque vai ao encontro de propostas do seu partido e a atual legislação permite abusos. O plano contém "várias medidas bastante adequadas e que provavelmente vão trazer aqui alguma acalmia a toda esta situação relativa à imigração", afirmou a cabeça de lista da Nova Direita às eleições europeias de 9 de junho.
Já o secretário-geral do PCP considerou que o plano para migrações do Governo vai potenciar a imigração ilegal e não responde aos processos de regularização pendentes, e anunciou que o partido vai apresentar um diploma para reforçar a AIMA. Em declarações aos jornalistas na Feira do Livro, Paulo Raimundo considerou que o plano "é igual aos que têm sido apresentados pelo Governo".
Já o secretário-geral do Partido Socialista considerou "vago" o plano do Governo para as migrações e advertiu que o fim da figura jurídica da manifestação de interesse criará um "vazio" legal e novos problemas, dificultando a regularização de imigrantes.
Tendo ao seu lado a líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, e o "vice" da bancada do PS, Pedro Delgado Alves, Pedro Nuno Santos começou por manifestar dúvidas sobre o sucesso de alterações ao nível da lei de estrangeiros no controlo de fluxos migratórios, contrapondo que é na "regulação e fiscalização do mercado de trabalho que as medidas podem ter maior impacto".
Em relação ao plano do Governo, o secretário-geral do PS disse "acompanhar objetivos de reforço dos meios da AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo) e dos serviços consulares".
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