"Eu confesso que, passadas estas semanas, estou verdadeiramente estupefacto por esta temática não ter entrado no discurso dos candidatos à Europa de todos os partidos, como se as questões da saúde fossem exclusivamente nacionais", afirmou Carlos Cortes em declarações à Lusa.
Na sequência da pandemia da covid-19, a Comissão Europeia lançou a União Europeia da Saúde, que pretende assegurar que os Estados-membros estejam mais bem preparados para responder conjuntamente a futuras crises sanitárias, apoiando simultaneamente políticas de saúde modernas e inovadoras para todos os cidadãos da União Europeia (UE).
Entre as ações desta iniciativa consta o planeamento de resposta a futuras ameaças transfronteiriças para a saúde pública, a reforma da legislação farmacêutica da União Europeia, um plano europeu de luta contra o cancro e uma estratégia para a saúde mental.
Está ainda prevista a criação do Espaço Europeu de Dados em Saúde (EEDS), que entrará em vigor em 2026, com o objetivo de criar um ambiente de confiança e segurança que permita o acesso e a partilha de dados de saúde entre diferentes países, instituições e profissionais.
"O que é verdadeiramente surpreendente e até lamentável é ninguém falar dessa União Europeia da Saúde que é tão necessária, mas que saiu completamente do discurso" de campanha para as eleições de domingo, salientou Carlos Cortes.
Segundo disse, a "saúde está no centro das preocupações da Europa", através de um conjunto de programas que "estão a ser desenvolvidos e que terão implicações para todos os países", como o acesso aos cuidados transfronteiriços e aos dados de saúde, que podem servir a Portugal também para "redirecionar as políticas" deste setor.
"É curioso que os candidatos a eurodeputados tenham colocado este assunto completamente de lado, fazendo crer que é um assunto nacional e não comunitário. É um erro muito grave, porque o que está em cima da mesa neste momento é esta União Europeia da Saúde", alegou o bastonário dos médicos.
Segundo referiu, todos os candidatos têm também de "estar muito preocupados" com as desigualdades na Europa com o acesso e com a qualidade dos cuidados de saúde, área em que vários países "enfrentam muitas dificuldades".
"Era importante os portugueses sentirem-se confiantes e tranquilos, sabendo que os seus eurodeputados vão defender aspetos que serão positivos para a Europa, mas também com consequências altamente positivas para Portugal. Precisamos também da Europa para nos ajudar a desenvolver mais e melhor o nosso Serviço Nacional de Saúde", defendeu Carlos Cortes.
Cerca de 373 milhões de eleitores europeus são chamados a votar para o Parlamento Europeu, com as eleições em Portugal marcadas para domingo. Serão escolhidos 720 eurodeputados, 21 dos quais portugueses.
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