Meteorologia

  • 07 JULHO 2024
Tempo
17º
MIN 14º MÁX 23º

Salgado? "Não tinha boa relação porque não gosto de quem me trata mal"

Manuel Pinho falou, em entrevista, sobre as incongruências do processo que levaram à sua sentença no caso EDP, sobre o recurso e a sua relação com Ricardo Salgado.

Salgado? "Não tinha boa relação porque não gosto de quem me trata mal"

O antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, comentou esta quarta-feira, a sua condenação a 10 anos de prisão por corrupção, fraude fiscal e branqueamento no caso EDP, realçando a sua inocência e afirmando que não fez "nada de indevido".

"Não há qualquer dúvida que tenho todas as provas para demonstrar que não fiz nenhum pacto, que não recebi nada de indevido e que não fiz nenhum favor", começou por dizer Pinho, em entrevista à CNN Portugal.

Revelando o contrato que tinha com os acionistas do BES, o economista apontou que, de facto, "o contrato existe e tem cláusulas que não se podem discutir e foram todas analisadas", nomeadamente sobre um prémio que teria a receber.

"Cada juiz pode usar as palavras que quiser. O que a juíza diz é que, apesar de haver essas provas materiais, eu acho que é de desconfiar", afirmou Pinho, arrasando a decisão da titular do processo.

Manuel Pinho referiu que esta "confundiu" vários aspetos - como a questão do recebimento de prémios, que eram pagos pelo Grupo Espírito Santo (GES) e não do grupo BES, como está no acórdão.

Além disso, Pinho acusou a juíza de escolher os testemunhos que levassem a uma condenação. Neste sentido, terá manifestado "um enorme enlevo" por José Maria Ricciardi, antigo presidente do BES Investimento, considerando-o "uma testemunha credível e coerente", mas, por outro lado, ao advogado José Miguel Júdice e ao ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), António Domingues, não lhes "dá credibilidade".

"Vou até onde for preciso para provar que é totalmente falso aquilo que me acusam", atirou ainda Pinho, deixando claro que já foi interposto um recurso à sentença.

Ricardo Salgado? "Não gosto de quem me trata mal"

Sobre a sua relação com Ricardo Salgado, Manuel Pinho afirmou que era "cordial", no entanto, "não tinha uma boa relação porque eu não gosto de quem me trata mal".

"Dizia a juíza que não é credível que, se Salgado lhe pagava tanto, não gostasse de mim. Ao que eu, de forma mais polida possível, disse 'deve-me estar a confundir com uma rameira', não é por me pagar ou deixar de pagar que eu tenho de gostar dessa pessoa", observou ainda.

Por fim, e já numa esfera pessoal, Manuel Pinho foi questionado sobre se já conheceu os seus netos. Após um momento de silêncio e comoção, não quis responder.

Recorde o caso (e as decisões do julgamento do EDP)

De recordar que, depois de oito meses de julgamento do caso EDP, Manuel Pinho foi condenado a 10 anos de prisão por corrupção, fraude fiscal e branqueamento; e o ex-banqueiro Ricardo Salgado a seis anos e três meses de prisão por corrupção e branqueamento. A mulher do ex-ministro da Economia, Alexandra Pinho, foi condenada a 4 anos e 8 meses de prisão. 

O tribunal deu como provada a existência de um pacto corruptivo entre Manuel Pinho e Ricardo Salgado, com vista à defesa e promoção dos interesses do GES enquanto o primeiro esteve no Governo, entre 2005 e 2009.

Numa leitura resumida do acórdão de cerca de 700 páginas, a juíza-presidente sublinhou ainda que Manuel Pinho e Alexandra Pinho receberam cerca de 4,9 milhões de euros no âmbito das contrapartidas estabelecidas neste acordo.

"Sabia ainda o arguido Manuel Pinho que ao aceitar as vantagens pecuniárias que não lhe eram devidas mercadejava com o cargo público, pondo em causa a confiança pública", afirmou a magistrada, realçando que Ricardo Salgado e Manuel Pinho "sabiam que lesavam a imagem da República e atentavam contra a confiança do cidadão" com as suas condutas.

A atuação do arguido nos cargos e a criação de estruturas financeiras provam a existência de pacto corruptivo entre Manuel Pinho e Ricardo Salgado. Ana Paula Rosa considerou também "inverosímeis, incoerentes e ilógicas" as declarações de Manuel Pinho em tribunal para explicar as situações que lhe eram imputadas pela acusação do Ministério Público (MP).

"Estas justificações aparecem-nos completamente ilógicas, apenas enquadráveis numa realidade virtual, sem correspondência com a realidade da vida. Analisando as declarações e a prova produzida, o arguido procurou normalizar e branquear as verbas recebidas", frisou, resumindo que "a atuação do arguido nos cargos e a criação de estruturas financeiras provam a existência de pacto corruptivo entre Manuel Pinho e Ricardo Salgado".

Manuel Pinho está em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, situação em que se irá manter enquanto é discutido o recurso desta decisão judicial.

Leia Também: Advogado de Pinho já interpôs recurso. 10 anos? "Pena muito pesada"

Recomendados para si

;
Campo obrigatório