Depois de a inspetora-geral da Administração Interna, Anabela Cabral Ferreira, ter dito que os elementos das forças de segurança não devem "despejar aquilo que lhes vai na alma" nas redes sociais, o líder da Plataforma de Sindicatos e Associações da PSP e GNR, Bruno Pereira, admitiu "concordar" com a opinião, mas com uma ressalva.
"Quando se faz um apelo a quem tem um dever qualificado de se abster - mesmo que possa, que não o devia ter, do ponto de vista de atitude, visão e perceção -, de ter comportamentos ou pensamentos que sejam xenófobos, discriminatórios ou racistas", deve-se "concordar" com esse apelo, disse o oficial da PSP ao Notícias ao Minuto.
Nas mesmas declarações, Bruno Pereira acrescentou que é "condenável" quando tal acontece, "ainda mais para quem tem um dever qualificado de se comportar eticamente e zelar para que a sociedade se comporte assim, conforme com as regras de convivência".
"Todo e qualquer comentário [racista, homofóbico e/ou xenófobo], ainda por cima de domínio público, que tenha origem num qualquer polícia é, naturalmente, qualificadamente censurável", continuou o sindicalista, afirmando que os seus colegas de profissão "devem ter um cuidado suplementar relativamente àquilo que dizem e que escrevem".
Esse cuidado deve existir "nas redes sociais, seja onde for", porque os agentes da polícia "não se representam só a eles próprios e, quando são olhados como polícias, estão a representar uma instituição".
"Não podemos olhar para a floresta com base numa ou duas árvores"
A inspetora-geral da Administração Interna disse, em Faro, à margem de uma cerimónia de conclusão de uma formação da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) sobre a manifestação de discriminação no seio das forças de segurança, que é "evidente que há elementos das forças de segurança com pensamentos discriminatórios".
Salientou, no entanto, que este "não é um fenómeno transversal às forças de segurança".
Na mesma onda de frequência esteve Bruno Pereira, que deixou um apelo: "Ter o cuidado de não extrapolarmos, ou não criarmos a ideia, um certo anátema, de que existem imensos polícias que o fazem".
Recordando "um caso particular de um certo grupo onde haveria polícias e militares que teriam comentários, alguns deles a preencher de forma clara dimensões próprias de comentários racistas, xenófobos ou discriminatórios", o líder do sindicato que junta elementos da PSP e da GNR argumentou que "não podemos olhar para a floresta com base numa ou duas árvores".
"É bom que tenhamos cuidado em não catalogar ou etiquetar um universo de pessoas, sobre quem temos tantas expectativas do ponto de vista do comportamento exemplar e conforme a constituição e as boas regras de ética", continuou, explicando que "os polícias têm as suas visões, políticas, do mundo, e não podem estar cortados em poder fazê-lo", mas "têm que o fazer com uma parcimónia maior".
Bruno Pereira alertou, também, em jeito de conclusão, que "à luz do sistema normativo português, estes comportamentos podem até integrar determinado tipo de crimes ou outras sanções do domínio sancionatório que merecem a nossa reprovação enquanto comunidade", sendo que "qualquer pessoa deve ter o cuidado" de não publicar mensagens deste teor nas redes sociais.
"Os polícias", por sua vez, "devem ter um cuidado maior", vaticinou.
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