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Ordem na casa? Ministério rejeita "escalada de deturpação" da entrevista

O Ministério da Justiça rejeitou hoje as interpretações do Chega sobre a entrevista da ministra ao Observador, considerando haver uma “escalada de deturpação das palavras” da governante, que disse ser necessário “pôr ordem na casa” em relação ao Ministério Público.

Ordem na casa? Ministério rejeita "escalada de deturpação" da entrevista
Notícias ao Minuto

18:16 - 27/06/24 por Lusa

País Justiça

Não existe, na afirmação em causa, como aliás se depreende do contexto geral da entrevista, qualquer referência ou até intenção de interferir com a autonomia do Ministério Público ou com a independência do poder judicial. A afirmação tem um sentido prospetivo, visando apenas o futuro”, lê-se num esclarecimento do gabinete da ministra Rita Alarcão Júdice enviado à Lusa.

O Chega quer ouvir a ministra da Justiça no parlamento depois de esta ter dito que o “novo procurador-geral tem que pôr ordem na casa”.

“É uma expressão que não se coaduna com o sistema democrático em que vivemos, é uma expressão que não se coaduna com o sistema de separação de poderes em que vivemos, mas que tem um efeito ainda pior e mais nocivo, é uma expressão que talvez denote de forma involuntária as verdadeiras intenções do Governo e, infelizmente, do Partido Socialista em matéria de justiça”, afirmou o líder do Chega, André Ventura, em declarações aos jornalistas no parlamento.

A nota do gabinete da ministra argumenta que “quando se diz ‘arrumar a casa’ sinaliza-se que em breve se vai iniciar um novo ciclo que contribua para a dignificação da Justiça, eliminando o ambiente de crispação e de tensão causado pelas polémicas e controvérsias em torno das instituições judiciárias, mesmo que, por vezes, sem fundamento. Qualquer outra interpretação é uma deturpação do sentido da entrevista, cuja versão integral está publicamente disponível”.

O gabinete de Rita Alarcão Júdice refere ainda que, independentemente de o pedido de audição ser ou não formalizado pelo Chega, já está prevista uma audição regimental na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias em 17 de julho, o que impede qualquer outro agendamento nos 15 dias anteriores.

Um eventual requerimento pode ter como resultado o acrescentar de mais uma ronda de perguntas dos grupos parlamentares à ministra às regimentalmente previstas na audição.

Na entrevista à Rádio Observador, hoje divulgada, a ministra admite que há uma "certa descredibilização" do Ministério Público e quer que o próximo Procurador-Geral da República inicie “uma nova era” e “ponha ordem na casa”.

No programa Justiça Cega, da Rádio Observador, a ministra garantiu que o Governo não tem dúvidas sobre o perfil para o novo procurador-geral da República (PGR), que terá de ser de liderança e de comunicação.

Já depois da divulgação da entrevista, Rita Alarcão Júdice reiterou numa publicação na rede social X (antigo Twitter) que o próximo procurador-geral da República deve ter capacidade de comunicação, mas também contribuir para a “dignificação da Justiça”, para eliminar “ambiente de crispação” e exercer funções “em linha com a Constituição”.

Depois de o presidente do SMMP, Paulo Lona, ter rejeitado a necessidade de “por ordem na casa”, mas reconhecido a necessidade de o Ministério Público comunicar melhor, o Chega anunciou a intenção de chamar a ministra ao parlamento para explicar as declarações e a expressão “pôr ordem na casa”, que considera que “não se coaduna com o sistema democrático” nem “ com o sistema de separação de poderes”.

Vários partidos pediram nos últimos dias a ida da PGR, Lucília Gago, ao parlamento, depois de terem sido divulgadas escutas que envolvem o ex-primeiro-ministro António Costa no âmbito da Operação Influencer, mas não diretamente relacionadas com esse processo, que levou à queda do Governo e a eleições legislativas antecipadas em março.

E o que dizem os partidos?

Em Bruxelas, na Bélgica, o secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, sublinhou que não tinha visto a entrevista em particular, eu que por isso não a queria comentar. "Mas há uma coisa que para mim é óbvia. O ambiente de suspeita, o clima de desconfiança face ao Ministério Público, só favorece quem é verdadeiramente corrupto", referiu.

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Já o líder do Chega, André Ventura, quer chamar a ministra com "caráter de urgência" ao Parlamento, criticando a expressão "pôr ordem na casa", utilizada pelo responsável. "É uma expressão grave, que para nós não pode passar em claro. Reforça a importância que tem que ter a nomeação da próxima ou próximo Procurador-Geral da República, debate a que o Chega não se furtará - precisamente para evitar que seja nomeado alguém, como tivemos noutros tempos, que estava lá não para fazer o seu trabalho de investigação criminal isenta e independentemente, mas para fazer fretes ao poder político", afirmou.

Já o Bloco de Esquerda criticou a falta de transparência e comunicação que marcou o mandato de Lucília Gago, apresentando também um requerimento para que a responsável possa ser ouvida no Parlamento. "É muito importante que a Procuradora-Geral da República possa aceitar este convite da Assembleia da República e que antes do fim do seu mandato possa vir explicar as opções que foi fazendo, tendo uma política de transparência e abertura com a sociedade e Parlamento", apontou.

Também a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, o silêncio que Lucília Gago foi deixando ao longo do seu mandato. "Não podemos ter um ministério Público em roda livre, isolado na sua bolha de silêncio e que não seja nem transparente, nem próximo do cidadão, e que não comunique aquelas que são também as suas tomadas de decisões", afirmou.

Já o Livre considerou que a expressão foi "excessiva" e referiu que acredita que a ministra "não quis dar a entender qualquer tipo de interferência naquilo que é o trabalho do Ministério Público". 

"Não usaríamos necessariamente a expressão pôr ordem na casa, mas que tem havido nos últimos anos e meses, em especial, algumas incompreensões sobre o trabalho do Ministério Público, isso é verdade. Achamos que para esclarecimento das pessoas o tal perfil de comunicação, abertura, prestar contas ao país é importante e pode ajudar a reforçar o papel da justiça", defendeu Paulo Muacho.

[Notícia atualizada às 19h22]

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