"Não posso deixar de lamentar o novo encerramento noturno das urgências do Hospital dos Covões e de manifestar a minha solidariedade com os profissionais e com os doentes relativamente a mais este encerramento, para já anunciado como temporário", referiu em reunião do executivo municipal, que decorre hoje à tarde.
A Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra apresentou, no final de junho, o plano de contingência para a resposta sazonal em saúde na época estival, que começou no dia 15 de junho e se prolonga até 30 de setembro.
"Nunca responsabilizei os conselhos de administração pelas medidas drásticas que, devido aos constrangimentos financeiros impostos pela tutela, se sentem obrigados a decretar. A responsabilidade, sejamos claros, é sempre da tutela", alegou.
José Manuel Silva, que durante seis anos foi bastonário da Ordem dos Médicos, mostrou-se profundamente dececionado com o estado atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que diz estar hoje "muito pior do que no tempo da troika".
"Tal é profundamente paradoxal, mas não surpreendente, com múltiplos encerramentos de urgências em várias especialidades e diferentes localidades e cada vez mais portugueses sem médico de família, afastando cada vez mais os cuidados de saúde de quem deles necessita, com ineludíveis consequências", sustentou.
Segundo o autarca, eleito pela coligação Juntos Somos Coimbra (PSD/CDS/NC/PPM/ALIANÇA/RIR/VOLT), os portugueses não devem "continuar a assistir passivamente à progressiva destruição do SNS e à desvalorização dos seus profissionais, um meio óbvio de esvaziar de competências o SNS e de forçar o emagrecimento das suas respostas".
"É antilógico que, num país pobre, quase quatro milhões de portugueses se tenham visto forçados a pagar a saúde duas vezes, fazendo seguros de saúde, seguros esses que são frágeis e não garantem uma boa cobertura de cuidados", indicou.
Ao longo da sua intervenção, José Manuel Silva disse esperar, do atual Governo, "uma estratégia clara de revitalização sustentada do SNS" e "não apenas de paliativos para situações de crise agudizada".
"Nesse âmbito, porque o anterior Governo não o fez, exigimos uma reafirmação clara, ou seja, uma dotação orçamental adequada e imediatamente disponível, para a aceleração da nova maternidade de Coimbra, para prevenir inevitáveis e muito graves problemas no futuro próximo", enfatizou.
O presidente da Câmara aproveitou ainda para apelar a uma desconcentração dos serviços centrais do Governo, para além das duas áreas metropolitanas, na área da saúde.
"Reafirmamos a nossa vontade para recebermos em Coimbra a Direção-Geral da Saúde. Aguardamos um novo olhar do Ministério da Saúde para o SNS e para Coimbra", acrescentou.
Para o vereador eleito pela Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV), Francisco Queirós, a centralização da urgência noturna nos HUC é uma medida que vem agravar as condições de atendimento e que "causa evidentes prejuízos aos utentes e profissionais".
"É mais um golpe no Hospital dos Covões", frisou.
Já o vereador socialista Hernâni Caniço estranhou o presidente da Câmara de Coimbra ser contra o encerramento das urgências noturnas no Hospital Geral (também conhecido por Hospital dos Covões, situado na margem esquerda do rio Mondego).
"É curioso que o senhor presidente seja contra o encerramento das urgências no Hospital dos Covões, eu também sou, seja a responsabilidade da administração [do Hospital] ou da tutela. Mas o senhor presidente permitiu, não sendo tutela nem administração, mas sendo presidente da Câmara, que o Hospital dos Covões já não seja Hospital Geral Central, demitindo-se da luta da cidade", criticou.
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