"Portugal é exceção. O 'tsunami' de antissemitismo não bateu nas costas"

Enquanto atos antissemitas crescem a nível global, com discurso de ódio na Internet, ataques a sinagogas ou colégios, Portugal é um exemplo de tolerância, considera Fernando Lottenberg, comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) Fernando Lottenberg.

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Lusa
22/07/2024 08:15 ‧ 22/07/2024 por Lusa

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Fernando Lottenberg

"Portugal é uma exceção. O 'tsunami' de antissemitismo não bateu nas costas de Portugal. Existe uma tradição de tolerância, de respeito, uma ideia de um país unificado, que não se envolve nos conflitos. Eles têm uma tradição de neutralidade durante a guerra. Enfim, felizmente, o que se tem visto em outros países, não tem acontecido em Portugal, ou acontece em escala muito pequena. (...) Espero que continue assim e que esse exemplo frutifique", compara o jurista brasileiro Fernando Lottenberg, comissário de Monitorização e de Combate ao Antissemitismo da OEA, em entrevista à Lusa em Buenos Aires.

 

Desde o atentado terrorista do Hamas a Israel em 07 de outubro passado, os ataques antissemitas pelo mundo multiplicaram-se. São manifestações de ódio pela Internet, ataques a sinagogas, clubes e colégios, além de atos de preconceito generalizados.

"Desde então, houve um aumento de 1.000% no Brasil, de 600% na Argentina, de 400% no Canadá. Na França, os judeus são os mais atacados, embora representem apenas 0,6% da população. No Uruguai, um professor identificado como sionista foi proibido de dar aulas. É importante que estejamos atentos porque o que começa com os judeus não acaba com os judeus. Se os judeus são estigmatizados, em seguida virão outras comunidades, outras minorias, e o ambiente democrático, o ambiente de respeito aos Direitos Humanos vai ter uma decaída muito séria", adverte Lottenberg.

Em alguns países da América Latina, os ataques do Hamas a Israel foram menos condenados do que o direito de resposta de Israel. Inversamente, a resposta de Israel ao Hamas foi interpretada como ataques genocidas pelos países governados à esquerda como Brasil, Colômbia e Chile. Os países que têm o Irão como aliados, como Bolívia, Venezuela, Nicarágua e Cuba, permitem aos antissemitas justificarem o ódio.

Por outro lado, os países à direita defendem o direito de defesa irrestrita de Israel. A Argentina, por exemplo, passou a considerar o Hamas como organização terrorista, identificando o Irão como financiador dos ataques contra Israel.

"O terrorismo não respeita fronteiras. Na Argentina, no ano passado, um avião venezuelano, com tripulação iraniana, foi apreendido no aeroporto de Buenos Aires. Até hoje, não ficou claro o que esse grupo veio fazer aqui. A Venezuela tem uma cooperação grande com o Irão. A Nicarágua também. Isso atrapalha a cooperação internacional contra o terrorismo porque as pessoas passam por determinados lugares sem serem punidas", destaca Lottenberg.

A Justiça argentina identificou ação do Irão no planeamento e financiamento do Hezbollah como executor de dois atentados em Buenos Aires. Cinco iranianos e um libanês têm mandado de captura internacional. No entanto, países alinhados com o Irão não cumprem com essa ordem de prisão, permitindo que transitem pelos seus territórios.

Há dois anos, Mohsen Rezai, vice-ministro de Assuntos Económicos do Irão, participou da posse do ditador nicaraguense Daniel Ortega. Rezai é um dos acusados pela Justiça argentina e tem mandado de prisão pela Interpol. Era um dos chefes da Guarda Revolucionária do regime iraniano.

"Ele não foi incomodado por ninguém. Foi à posse de Daniel Ortega com total impunidade. É preciso que os países membros da OEA cooperem internacionalmente para que o combate ao terrorismo seja válido em todo o mundo", defende Lottenberg, presente em Buenos Aires para o ato dos 30 anos do atentado terrorista à Associação Mutual Israelita-Argentina que deixou 85 mortos e mais de 300 feridos.

No ato, o presidente da AMIA, Amos Linetzky, denunciou a hipocrisia dos países que recebem acusados de terrorismo (Qatar, Rússia, Síria, Venezuela, Bolívia e Nicarágua) e que assinam com o Irão acordos militares, mesmo quando os seus próprios cidadãos foram vítimas do terrorismo (Bolívia).

"Passaram-se 30 anos nos quais países como Qatar, Rússia, Síria, Bolívia e Nicarágua permitiram que pessoas acusadas passem comodamente pelas suas fronteiras, violando alertas da Interpol. Onde ficou a sonhada irmandade latino-americana. Países da região não declaram o Hezbollah como organização terrorista e assinam pactos com o Irão. O governo boliviano assinou acordos militares com o Irão, apesar de seis cidadãos bolivianos terem morrido no atentado à AMIA", recordou Amos Linetzky.

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