Saúde. Montenegro diz estar a "cumprir", Marcelo pede tempo mas faz aviso

Ao lado do Presidente da República, o primeiro-ministro quebrou o silêncio sobre a crise vivida na saúde.

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Carmen Guilherme com Lusa
08/08/2024 18:38 ‧ 08/08/2024 por Carmen Guilherme com Lusa

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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, assegurou, esta quinta-feira, que o Governo está a cumprir "as prioridades" do Plano de Emergência e Transformação na Saúde, comprometendo-se com a concretização de todos os objetivos traçados, contudo, defende, que a situação encontrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS) "era, de facto, muitíssimo má". 

 

"Nós estamos a cumprir. Estamos a cumprir as nossas prioridades", disse Montenegro, em declarações aos jornalistas, acompanhado pelo Presidente da República e pela ministra da Saúde, depois de uma visita ao Serviço de Oncologia e às instalações renovadas da Maternidade do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

O primeiro-ministro destacou que foi elencado como prioritário "reduzir a lista de espera de cirurgia dos doentes oncológicos", algo que foi "materializado", e que quer "recuperar até ao final do ano as restantes listas de espera". 

O chefe do executivo recusou-se a "vender ilusões" aos portugueses sobre o estado atual do setor, afirmando que o SNS que o atual executivo herdou do anterior socialista estava "absolutamente caótico e sem vislumbrar as melhorias de que carecia".

"As matérias relativas à saúde em geral e ao Serviço Nacional de Saúde são de uma especial delicadeza", disse. "Não vamos ter capacidade de resolver tudo de um dia para o outro. Temos várias intervenções a aconteceram ao mesmo tempo para podermos recuperar a capacidade de resposta do SNS", acrescentou.

Interrogado sobre se está a ser mais difícil do que esperava, Montenegro respondeu: "Está a ser tão difícil quanto aquilo que esperávamos porque a situação era, de facto, uma situação muitíssimo má. O ponto de partida era um ponto de partida muito mau", frisou, assegurando aos portugueses que "com responsabilidade" o Governo irá "cumprir os objetivos que estão traçados".

Ainda assim, o primeiro-ministro admitiu que seria "irresponsável dizer que as urgências estão a funcionar bem", deixando a esperança de que "no próximo verão" e nos próximos oito anos já não existam os problemas que existem agora. 

"Seria uma declaração absolutamente irresponsável e irrealista dizer que as urgências estão a funcionar bem e que há uma capacidade de resposta plena. Nós sabemos que não há. Nós esperamos no próximo verão, com o trabalho que vamos desenvolver durante este ano, não ter os problemas que estamos a ter este verão e sobretudo aqueles que tivemos nos últimos oito anos", realçou.

Contudo, o primeiro-ministro salientou o facto de terem sido registadas "19.050 chamadas de mulheres grávidas, que em vez de andarem à procura de um serviço de urgência disponível para as apoiar, foram encaminhadas para equipas que estavam já à sua espera para as atender".

"Depois de sabermos isto, a pergunta que eu lanço às portuguesas e aos portugueses é: nós estamos com mais ou menos capacidade de resposta? Nós estamos com mais capacidade de resposta. É suficiente para dar a todos o acesso que nós queremos garantir? Não, não é suficiente. Ainda é preciso fazer muito mais", reconheceu.

Montenegro assegurou que "as grávidas portuguesas têm razões para estar hoje mais seguras do que estavam há meio ano atrás".

"E eu quero acreditar e quero dizer-lhes que vão ter razões para estar ainda mais seguras daqui a um ano", acrescentou.

Montenegro recusou, contudo, falar sobre casos concretos, ao ser questionado sobre a polémica recente em torno do Hospital das Caldas da Rainha. 

Já sobre a presença do chefe de Estado, Montenegro atirou: "Não vim com chapéu de chuva nem de sol, porque temos os dois grande capacidade de andar à chuva, ao frio e ao sol". 

O primeiro-ministro defendeu que tem o "dever" de informar o Presidente da República sobre todas as ações do Governo e aponto a  "grande capacidade" dos jornalistas em "criar factos novo".  "Querem transformar um convite para um pedido de ajuda", rematou.

Marcelo fala em "expectativas", mas refere que é preciso tempo (com aviso)

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também tomou a palavra e depois de elogiar a resposta "excecional" do pessoal de saúde, quis esclarecer a sua presença na visita em questão. O chefe de Estado referiu que foi convidado por Montenegro para ser informado "no lugar adequado" sobre aquilo "que está a ser feito".

"Não é a primeira vez, já no anterior Governo isso aconteceu. Recordo-vos o caso do PRR e das obras do PRR", recordou Marcelo. 

Lembrando a reforma levada a cabo pelo anterior Executivo no SNS, que teve início no último trimestre de 2022, e a posterior mudança do Governo, que tomou posse há apenas alguns meses, o Presidente notou: "Este verão, calhou, coincidiu, independentemente dos verões serem mais ou menos complicados nisto ou naquilo, com uma mudança de governos e coincidiu, inevitavelmente, com a adoção de novas políticas, a adoção de novos métodos de gestão ou, pelo menos, a adaptação dos métodos de gestão que vinham do passado. Tudo isto aconteceu e coincidiu neste espaço de tempo".

Sobre o Plano de Emergência, Marcelo lembrou que este "era um plano faseado ao longo de dois anos", o que "criou expectativas muito altas quanto ao calendário fixado". "As pessoas, naturalmente, pensaram que esse Plano de Emergência poderia ser todo cumprido ao mesmo ritmo e não em dois anos, mas em poucas semanas ou em poucos meses", reconheceu.

"Eu acho que todos criámos, eu criei, expectativas muito altas. Porque perante a gravidade dos problemas, ao falar-se de um plano de emergência, cada um de nós deseja que a resposta seja o mais rápido possível. Portanto, as expectativas foram expectativas criadas, muito altas, relativamente a uma situação em que, em muitos casos, não era possível corresponder às expectativas", sublinhou.

O chefe de Estado disse ver como um "caso de sucesso pleno" a resolução das listas de espera de cirurgia para doentes oncológicos que ultrapassaram o tempo máximo recomendado, uma das 54 medidas do plano de emergência para a saúde do Governo PSD/CDS-PP.

"Como são muitos os pontos e as medidas do Plano de Emergência o que importa a meu ver - foi essa a ideia do primeiro-ministro e é a minha ideia - ir acompanhando agora as várias outras medidas para ver se é possível e, se é possível, dentro de que prazos", defendeu, referindo ainda "esperar da parte do senhor primeiro-ministro convites complementares" para ir acompanhando "o grau de execução" deste plano.

Sugerindo assim que o Governo precisa de tempo, avisou: "Eu ouvi a senhora ministra [da Saúde] dizer 'para o ano espero bem que aquilo que se vive este ano já não seja vivido'. Eu espero também. A senhora ministra espera e eu espero", completou.

À semelhança de Montenegro, Marcelo também não quis comentar o caso ocorrido nas Caldas da Rainha, referindo que é preciso esperar, uma vez que há "versões contraditórias". 

Recorde-se que o Plano de Emergência e Transformação na Saúde integra 54 medidas - urgentes, prioritárias e estruturantes - com o objetivo de garantir o acesso a cuidados de saúde ajustados às necessidades da população. O cumprimento das medidas de emergência foi notícia nos últimos dias, apontando-se a baixa execução do plano de emergência, mas o Governo rejeita as críticas.

[Notícia atualizada às 19h54]

Leia Também: Ministra diz que espera excessiva para cirurgias oncológicas está resolvida

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