"Esta é uma forma que nós entendemos que é eficaz, neste momento, para tentar debelar aqui esta frente de fogo e se conseguirmos debelar esta frente de fogo o assunto fica solucionado", disse o presidente do Governo Regional (PSD), Miguel Albuquerque, pouco depois dos primeiros despejos, cerca das 17:30.
Albuquerque falava aos jornalistas no Pico do Areeiro, nas montanhas sobranceiras ao Funchal, frente a uma linha de fogo que lavra numa encosta em direção ao Pico Ruivo, o ponto mais alto da ilha da Madeira, com 1.862 metros.
"Este despejo agora destes dois Canadair foi cerca de sete toneladas de água. O nosso helicóptero leva menos de mil litros, portanto são sete viagens de helicóptero", salientou, mostrando-se convicto de que será possível debelar o incêndio se a operação continuar hoje e sexta-feira.
O helicóptero do arquipélago é o único meio aéreo que a região tem em permanência para o combate aos fogos e está no ativo desde 2018.
Apesar de os aviões Canadair terem sido disponibilizados oito dias após o início do incêndio (e terem começado a atuar hoje, nono dia), no âmbito do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, Miguel Albuquerque considera que a "estratégia não tardou".
"Nós adotamos esta estratégia quando é possível adotar a estratégia, ou seja, os Canadair só podem intervir -- e é a primeira vez que intervêm na Madeira -- numa situação onde não há aglomerados urbanos, nem agricultura [...] e a única hipótese que nós temos para [essa] intervenção foi quando o fogo saiu do Pico do Cardo [no Curral das Freiras] para a cordilheira central", explicou.
O chefe do executivo negou que tenha havido pressão do Governo da República para que fosse ativado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e sublinhou que houve "toda a disponibilidade" de parte a parte.
Também disse que não foi feito qualquer desmentido por parte do seu governo sobre a vinda dos Canadair, explicando que na quarta-feira à tarde, quando as primeiras notícias foram divulgadas, a operação ainda estava em curso, tendo em conta várias condicionantes, como a facto de os pilotos não estarem habilitados a aterrar no Aeroporto Internacional da Madeira.
Por isso, a opção foi o Aeroporto do Porto Santo, onde foi necessário adaptar as mangueiras das bocas-de-incêndio e a pressão para encher os depósitos dos aviões.
"Nós trabalhamos em termos profissionais, não andamos aqui a brincar. Portanto, quando nós tomamos as decisões e dizemos as coisas é porque elas estão concretizadas. Não podemos estar a anunciar decisões sem elas estarem concretizadas e termos, sobretudo, a capacidade técnica de as executar", esclareceu.
A delegação do arquipélago do Sindicato dos Jornalistas denunciou hoje o que classifica como "clima de pressões e restrições" na atividade dos profissionais envolvidos na cobertura do incêndio, exemplificando com a informação divulgada na quarta-feira pelo DN/Madeira sobre o envio dos dois Canadair.
"Após a publicação da notícia, fontes do Governo Regional apressaram-se a desmentir a informação numa tentativa de 'assassinato profissional', como refere o diretor [do DN/Madeira], Ricardo Miguel Oliveira. Duas horas depois, é o próprio Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, a confirmar a vinda dos dois meios aéreos para a Madeira", referiu o sindicato.
Albuquerque disse, por outro lado, que o tempo entre as descargas e o abastecimento dos Canadair não compromete a operação, na medida em que a viagem entre o Porto Santo e a Madeira é de apenas 10 minutos.
O governante afirmou ainda que a situação da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, o único sítio onde os moradores continuam impedidos de regressar a casa devido à instabilidade da escarpa ao longo da estrada, será resolvida, sem, no entanto, indicar uma data.
"Ontem [quarta-feira] de manhã estive a tratar dessa situação [...]. Essa estrada é uma via muito periclitante do ponto de vista das derrocadas. Já está a ser enquadrada. Ainda ontem tivemos uma reunião com o presidente da Câmara [de Câmara de Lobos] no sentido de encontrarmos e vamos encontrar a solução", assegurou.
O incêndio na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção dos da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais.
Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 4.930 hectares de área ardida.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.
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